“Fazer amor é um ato sem importância, já que se pode repeti-lo indefinidamente”
E não o é?
Assim começa o romance de Alfred Jarry. Parece banal perante a todas as discussões presentes hoje na sociedade, mas que, como no início do século XX e no romance, gera certo desconforto ao ser pronunciada.
E o que diríamos de um indiano, um misterioso indiano que é uma máquina sexual completamente fora dos limites humanos, reflexo do que talvez seja o desejo oculto de todo (super)macho. Talvez um super-herói. Um indiano, incrivelmente potente, gera um desejo nas mulheres, que o desejam sem medo. Ele existe no romance. A essência de O Supermacho é essa: esse mito do desejo e do ato sexual e todas as magias que rodeiam o assunto, principalmente a potência sexual. Apesar do assunto central, o romance também abrange as evoluções tão presentes naqueles anos. O Supermacho traz à tona uma intensidade de assuntos masculinos, e sociais, que rondavam o início do século XX.
Retratando muito das descobertas daquele período, temos uma sociedade movida pelas magnitudes da ciência, que é envolvida por todo o mito do super e sua superioridade acima de qualquer possibilidade humana. A Corrida das Dez Mil Milhas é isso, essa presença científica de potência humana. Marcueil é essa representação, o super, movido pela energia que a ciência trouxe ao mundo moderno.
Apesar de ser um livro dos primeiros anos do século XX, O Supermacho fala também do atual, das dúvidas e anseios que até hoje são presentes na sociedade. Sutilmente, elas, assim como a primeira pergunta do livro, fazem presença e permeiam ainda em nós. Entender o percurso de vida de Jarry nos ajuda a mergulhar mais a fundo nessa jornada.
O Supermacho é um dos primeiros livros da Editora Ubu, com tradução do Paulo Leminski e ilustrações de Andrés Sandoval.
Quando a Ubu nasceu, muita expectativa foi depositada nessa recém-nascida editora, que trazia o peso de editoras da então Cosac Naify em uma nova empreitada. Entre os primeiros livros que vi a editora divulgar no seu catálogo, O Supermacho ganhou um destaque em minha memória e uma pulguinha pulava nas lembranças e na vontade de ler o livro e conhecer o editorial da Ubu. Quando a oportunidade chegou, me agarrei, e agora posso afirmar que a Ubu chegou para melhorar e agregar ao mercado editorial. Um design refinado, tradução e ilustração caprichadas, um projeto gráfico impecável. Não deixa nada a desejar e vem ainda carregada, não do peso de uma orfandade de leitores, mas de uma identidade própria e repleta de bom material pra trazer a nós.