Coitada da Clarice?

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Colunista defende Clarice Lispector da autoria de frases clichê, porém falha em argumentos bobos.

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Recentemente, a colunista Tati Bernardi escreveu um texto para o site da Folha de São Paulo reclamando da divulgação de frases estilo autoajuda atribuídas, equivocadamente, a Clarice Lispector. A indignação é válida, ainda mais tendo sido a citação em questão publicada em uma revista.

O trecho creditado pela revista como de Clarice e postado por uma atriz no twitter é clichê e absolutamente inferior à qualidade da nossa escritora, incluindo frases como “Sou uma pessoa de dentro para fora” e “Minha beleza está na minha essência e no meu caráter”. De fato, é uma lástima que muitas pessoas tenham uma imagem distorcida de Lispector, compartilhando frases que não são suas ou fora de contexto, sem sequer ter lido um livro dela. O problema é que a crítica de Tati Bernardi não para por aí. Em seguida, a jornalista peca pelo exagero e mesmo pela injustiça em suas queixas e argumentos.

Primeiramente, ela questiona a realização de um quadro no Fantástico baseado em textos que Clarice escrevia para uma revista feminina sob pseudônimo. Julgando mal a própria escritora que supostamente defende, a colunista afirma que esse trabalho era apenas um bico em que Lispector escrevia “imbecilidades de mulherzinha”. É muito provável que ela não tenha assistido de fato ao quadro em questão, ou perceberia o estilo clariciano muito bem representado, de forma bela e poética, com adaptações desses artigos de revista, nos quais Clarice dava dicas de bem viver, em sua sabedoria cotidiana, válidos até hoje.

Então, a jornalista apresenta uma série de situações esdrúxulas em que uma Clarice estereotipada utiliza as frases clichês que a ela foram atribuídas. Se, por um lado, a intenção de mostrar o quão patética seria essa falsa Clarice criadora de autoajudas chega a surtir certo efeito, por outro lado o texto acaba assumindo um tom mais bobo do que as próprias frases criticadas. Discussões com o namorado “Peida” ou com as parentes invejosas talvez não sejam a maneira mais inteligente de depreciar uma geração (ou parte dela) vazia. O próprio título do texto já assume ares de fã adolescente revoltada: “Véi, mano, coitada da Clarice”. Coitada mesmo. Mereceria uma defesa melhor.

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