Esses dias eu fui ao shopping. O dinheiro era quase que contado: cinema, lanche pro cinema e um Burger King depois, nada mais que isso ou eu não voltava pra casa. Queria um Whopper Furioso, porque a fome era grande. Por motivos maiores (o filme que queriam me obrigar a ver era sobre vampiros bonzinhos que amavam garotinhas indefesas e não chupavam sangue de humanos), desisti do cinema e resolvi perambular pelo shopping. Eu tinha mais ou menos duas horas de liberdade, pra andar por aí e “refletir” olhando vitrines. Impaciente que sou, a parte de olhar vitrines eu fiz em menos de vinte minutos. Depois disso, segui o caminho mais óbvio que fazem todos os viciados em literatura, e que sem dúvida iria me deixar entretido por muito mais que duas horas. Entrei na livraria.
Agora imagine a tortura de entrar na livraria sem dinheiro. Olhar as pilhas e pilhas de livros que você deseja e não poder comprar nada. Passar horas e horas folheando obras e respondendo “tô só dando uma olhada, obrigado” para os vendedores, animados no começo, mas que depois de um tempo começam a perceber qual a sua e deixam você vagar pelos corredores, quase como se fosse invisível, ou apenas um elemento do cenário (o que não é ruim nesse caso, é quase como aquele sonho de ficar trancado no mercado depois que ele fecha).
Mesmo nos casos que eu vou pra livraria sem dinheiro, eu sigo quase que uma ordem de viagem. Pode se dizer que é uma mania inclusive (que esqueci de citar no texto de semana passada, perdão). Tenho uma lista mental (mais listas, viu!) dos livros que eu quero comprar mas não tenho urgência deles. São obras que eu já li, ou que quero ler, mas são clássicos difíceis de achar, ou qualquer coisa assim. O fato é que quando acabo de dar uma visão geral da livraria, se tenho tempo eu sempre procuro alguns itens dessa lista.
Um dos itens que eu lembrei nesse dia, foi Drácula. Acho que talvez meu subconsciente tenha me lembrado dele para agradecer o fato de não ter ido ver o filme com os “vampiros”, então seguiu a lógica de que nada melhor do que procurar o livro do vampiro verdadeiro. Fiquei uns bons quinze minutos procurando nas prateleiras, nada em “Terror”, nem em “Estrangeiras” nem nas outras que eu procurei. Resolvi perguntar para uma vendedora, que procurou no sistema e respondeu feliz “tenho uma edição encadernada na versão português e inglês, e é a última, quer ver?”.
Se eu queria realmente ver? Não. Porque se uma versão encadernada já é cara, imaginei a facada que seria uma encadernada E com versão Inglês/Português. Mas pra não fazer desfeita, disse que seria bom sim dar uma olhada. Então lá fomos nós para o segundo andar da livraria caçar um vampiro clássico que ainda por cima era bilíngue. Ela achou o livro, me entregou e me deixou um pouco a só com ele (só faltou trilha romântica). O livro era realmente elegante, com uma capa bonita, folhas grossas e ainda era traduzida com comentários, minha professora de inglês aprovaria na hora. Não tinha etiqueta que mostrasse o preço, como se para aumentar o mistério.
Chamei a moça que me atendeu, e perguntei qual o preço do livro. Me preparei para algo como 80, 90 reais, ou até mais, quem sabe. E a minha fome aumentando com a ansiedade. Então, quando ela respondeu “trinta e um e noventa” eu quase caí pra trás. Era quase exatamente o que eu tinha. Começou então uma batalha mental entre comer ou comprar o livro. Felizmente a briga durou pouco e o consumismo falou mais alto (se é que esse caso pode ser chamado de consumismo, considerei mais como investimento). Pouco depois, eu já estava na fila do caixa, ainda pensando que a qualquer momento me diriam que o preço na verdade era outro. Quando sai da livraria com o livro na sacolinha, ai acreditei.
Fui pra casa com fome, mas pelo menos agora tenho Drácula versão capa dura inglês e português na minha prateleira, pretendo ler o mais rápido possível. O Whopper? Comi muitos outros depois desse dia. O livro? Nunca mais vi um igual. E para aumentar ainda mais a sorte daquele dia, cheguei em casa e minha mãe estava com uma lasanha saindo do forno.