
A literatura de ficção científica explica a teoria de relatividade geral e recria o universo imaginado pelo físico alemão Albert Einstein há um século.
Quando Albert Einstein publicou a teoria de relatividade geral em 1915, as ideias sobre as dinâmicas de funcionamento do mundo foram transformadas quase que radicalmente e alçaram o físico alemão ao estrelato. De forma muito sucinta, a relatividade geral explica a gravidade como uma distorção de variação espaço-tempo. Esta nova noção de espaço-tempo foi desencadeadora de um universo ficcional que não para de atrair novos públicos. A possibilidade de viajar no tempo já existia na literatura de ficção científica, mas os postulados de Einstein acrescentaram elementos que fundaram a chamada cosmologia moderna e, por consequência, a chance de explorar novos imaginários e universos ficcionais.
Segundo a biografia de Einstein, escrita por Walter Isaacson, no romance Baltasar, de Lawrence Durrell, há uma passagem que diz o seguinte: “A proposição da relatividade foi diretamente responsável pela pintura abstrata, pela música atonal e pela literatura sem formas”. A teoria da relatividade geral significou para muitos artistas da época “como estar livre da ordem do tempo”, conta a biografia do físico alemão, que cita a conclusão de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. “Não entendo nenhuma palavra das teorias dele, pois não sei álgebra. Ainda assim, parece que temos maneiras análogas de deformar o Tempo”, escreveu Proust.
O jornal britânico The Guardian reforça que, não fosse a publicação das teorias de Einstein, hoje não estaríamos tão confortáveis para falar sobre o universo científico de histórias em quadrinhos e explicando com tanta propriedade sobre viagens espaciais. No filme O planeta dos macacos (1968), o personagem do ator Charlton Heston explica que ele e sua tripulação foram transportados para o futuro graças a uma dilatação do tempo – efeito previsto na teoria de Einstein. O longa é baseado no romance de Pierre Boulle – La planète de Singes (1963) e um dos primeiros a popularizar e ilustrar a teoria da relatividade no universo de ficção científica.
As histórias de incríveis naves espaciais que viajam através de mundos paralelos também não seria possível sem as descobertas de Einstein. Pelo menos não na forma que vemos hoje, como ocorre no universo Alliance-Union, que compõe boa parte da obra da escritora norte-americana C.J. Cherryh. O mesmo acontece com a monumental saga Duna, de Frank Herbert, considerada um dos pilares da ficção científica da atualidade, pois criou uma história que coloca o homem na grande escala do universo.
Tau Zero, de Paul Anderson, é um mergulho na ficção científica pura, e o autor não se deteve tanto às questões humanas, como fez Frank Herbert. Mas a maneira como Anderson descreve a teoria da relatividade geral é um importante ponto de partida para quem gosta da mistura de ciência imaginada com realidade. Quanto mais os tripulantes que vão colonizar Beta Virginis aceleram a nave espacial, mais o tempo do lado de fora passa rápido e os personagens percebem que podem estar viajando centenas de anos a frente. A protagonista da trama – Lenora Cristine – levaria cinco anos para chegar em Beta Virginis, porém, 33 anos se passariam na Terra, mas os efeitos da aceleração podem mudar totalmente a noção que os personagens têm do tempo.
O escritor britânico Alastair Reynolds também está no segmento chamado de “hard science-fiction”, assim como Paul Anderson, com cenas de combates e guerras espaciais que permeiam toda a obra do autor, com destaque para House of Suns, cujo enredo empurra as possibilidades das leis físicas postuladas por Einstein ao limite. O mesmo ocorre com A fire upon the deep, de Vernor Vinge, que brinca com a ideia de que o tempo é apenas uma ilusão criada pelo homem.
A escritora Doris Lessing criou uma fábula em forma de ficção científica para falar de religião, ética e moral. Em um universo onde é possível viajar entre mundos, a obra reconhece a existência de uma espécie de paraíso ou nirvana e os impérios intergalácticos nos mostram a forma mais filosófica que a teoria da relatividade geral acabou se transformando ao longo do tempo.
Na saga Forever War, do norte-americano Joe Handelman, as guerras interestelares não apenas fazem alusão à teoria da relatividade, como também é um eco da experiência do autor na guerra do Vietnã.
A beleza das teorias de Einstein, por si só, tem um quê de ficção científica. O próprio físico chegou a explicar suas ideias para o filho de uma maneira quase poética: “Quando um besouro cego anda sobre a superfície de um galho curvo, ele não percebe que o caminho percorrido é uma curva. Eu tive a sorte de perceber o que o besouro não percebeu.”
Referência:
Einstein – Sua vida, Seu Universo, de Walter Isaacson, Companhia das Letras.