Frederico Pedreira se aventura no prosa pela primeira vez em 7 contos com personagens femininas.
O primeiro livro de prosa de Frederico Pedreira que, aos 31 anos de idade, conta já com 3 livros de poesia editados, chama-se Um Bárbaro Em Casa, Editora Língua Morta, Lisboa, 2014. Livro formado por sete contos, nos quais cada um deles um homem gravita em torno de uma ou várias mulheres. Não no sentido romântico do termo ou num sentido anti-romântico, ao contrário da ilusão da possibilidade do amor ou de um sentimento mais sem pele, mas no sentido humano-animal do termo: a necessidade que a existência tem de nos pôr a desejar um corpo e a imaginação que deriva dele. Cada conto, que tem uma voz narrativa similar que se arrasta ao longo do livro, justificando a leitura como sendo uma novela (a única diferença mais substancial encontra-se no último conto), tem como título o nome de uma mulher: Tota, Hanna, Jasmine, Ivanna, Martina, Mel e Filipa.
O narrador não é um garanhão (pegador, no Brasil), nem tampouco um desajeitado com as mulheres, é tão somente um gajo (um cara) que “conhece o seu campeonato”, como quando se refere acerca de uma das mulheres que encontra num bar e com a qual não tem sombra de sucesso, no conto “Martina”: “Este não é o meu campeonato. Aquela gaja não jogava nele, disso tenho a certeza.” (p. 90) As narrativas passam por quatro cidades, Reykjavík, Londres, Lisboa e Amsterdã (esta em apenas três páginas finais de um dos contos), todas elas imersas num universo urbano, noturno, povoado de excessos de álcool, desencontros e aceitação (por parte do narrador) da crueza da realidade em que ou que vai vivendo. Não se pense com isto que se tratam de narrativas realistas, pelo contrário, são narrativas que levam o subjetivo a um dos extremos da individualidade, ao extremo daquilo que importa ao narrador e nada mais. Não há sequer resquícios de política, ética ou um sentido de comunidade, estamos diante de uma viagem ao interior de um indivíduo que tem como suas preocupações levar um dia até o outro, tentando resolver o inevitável débito da transação entre prazer e desprazer. E aqui, sim, nesta redutio ad absurdum, deparamo-nos com um sentido ontológico. Porque este indivíduo a levar um dia até o outro – uma noite até a outra, melhor seria dizer – não pode deixar de nos lembrar do mito de Sísifo e, obviamente, o quotidiano de cada um de nós, independentemente da vida de cada um, carregado de tarefas múltiplas, repetitivas e mais ou menos onerosas. Quando a ressaca traz o narrador encosta abaixo, há sempre uma migalha de lucidez que o leva a procurar subir à próxima noite, à próxima mulher, à próxima razão forjada para continuar. Um livro que faz, de um frágil homem na noite, um herói contemporâneo.