Conto: O Final da Criação – O Início – William Glück

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O esboço do mundo estava pronto, faltava tirar uma poeira aqui e acolá que ainda restava pelos cantos e dar uma caprichada no clareamento das calotas polares, mas no mais, estrutura nota mil. Todos se olhavam com uma cara séria, era a hora da verdade: definir as regras lógicas, matemáticas, aritméticas e métricas que regeriam aquele quarteirão do Universo.

Para nós habitantes do planeta azul faz todo o sentido acreditar que as regras da física que se aplicam aqui e no resto do infinito são as mesmas, ledo engano. Um exemplo clássico são os planetas em galáxias próximas que trocam de par a cada 100 anos, visivelmente diferente da estável relação Terra – Lua que já dura milhões. E por ai vai…  Existem planetas aonde 2 + 2 é 0, e outros em que qualquer número dividido por zero é uma caixa de chocolates e uma raspadinha. Para nós, terráqueos nada disso faz sentido, mas para eles, os deuses da lógica, essas eram coisas naturais.

O processo de criação de um novo planeta habitado é muito metódico: escolher a localização, varrer os restos da última super nova,  design técnico, projeto da engenharia, construção, e por último, a definição das regras gerais. A decisão de qual seria a constituição do núcleo do planeta já tinha atrasado uns dois milhões de anos (vamos admitir que as opções eram ótimas, mas no final um  clássico centro metálico levou a melhor contra a inovadora geleia com gummy bears), o que tinha abalado os ânimos e criava espaço para decisões mal tomadas.

O secretário entrou calmamente, deixou a térmica de café na mesa e levou a pasta até o presidente da sessão. Ele abriu-a e tirou a primeira grande questão: O comportamento do zero.

Continua…

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