
Eduardo é um jovem autor. Desde pequeno quis ser escritor. Quando ele era criança vivia escrevendo cartas. Nunca as enviou. Mas escrevia. Ao tornar-se jovem, ele escrevia e-mails. Raramente os enviava. Mas a vontade de ser escritor era grande. Um dia, após um longo período em frente ao computador, “ouvindo” vários conselhos e palavras de ânimo vindas dos seus amigos virtuais ele decidiu escrever seu primeiro livro. Nesse dia teve início o seu martírio.
A tortura não foi escrever, pois Eduardo já escrevia desde pequeno. A tortura veio depois do ponto final dado à sua narrativa. Tudo começou quando foi realizada a primeira (re)leitura do que ele havia escrito. Foi um tal de tira daqui, acrescenta ali. Uma hora era uma vírgula a mais; outra, era uma dúvida entre usar um ponto e vírgula ou ponto final. Noutros momentos, subtraía uma frase ou um parágrafo inteiro; noutros, havia uma urgência em acrescentar uma nova ideia, uma frase bombástica e, dessa forma, a cada releitura, Eduardo vivia momentos de agonia. Certa dia, cansado de torturar-se, o jovem escritor decidiu dar um tempo na sua leitura e distanciou-se de sua narrativa. Entretanto, quando tornou a ler, nossa, que porcaria ele havia escrito! Decidiu modificar páginas, criar novos conflitos, encontrou situações absurdas, como ele, um jovem e experiente autor (escrevia desde pequeno) pudera escrever aquelas bobagens sentimentais? Oh… Como é difícil ser escritor.
Entre uma noite e um dia havia as madrugadas acompanhadas de vinho e lixeiras, local onde ele depositava as suas frustrações, jogando fora páginas e páginas de uma narrativa sem sal. Havia momentos em que ele até que gostava do que escrevia. Mas ele tinha que colocar um ponto final naquele desespero. Senão, era esquecer a ideia de ser um escritor. E, então, num ato corajoso, Eduardo envia sua narrativa à editora e fica esperando a resposta.
Após alguns dias, semanas e meses, a resposta vem. A gastrite nervosa, após esse período já se instalara em seu ser e, num telefonema rápido, ele ouve o veredito final do editor: “Eduardo, acabei de ler o seu romance. Temos que marcar uma horinha para conversarmos sobre ele.”.
“… conversarmos sobre ele.” Eduardo nem acredita… Mas é verdade, ainda terá que reler mais e mais vezes a sua obra. É… a vida louca de escritor não é mole, não.