O fato de possuir grande experiência no ramo policial o faz analisar os motivos que levam um indivíduo a praticar crimes carregados de crueldade.
Com o sucesso do romance Dias perfeitos, de Raphael Montes, e a publicação dos primeiros livros do belga Georges Simenon pela Companhia das Letras, a literatura policial voltou (se é que algum dia deixou de) a ficar em evidência. Com isso, romances clássicos da ficção criminal brasileira começaram a ser desenterrados do fundo do baú e apresentados a quem não os conhecia. É o caso de O silêncio da chuva, da autoria de Luiz Alfredo Garcia-Roza, publicado em 1996.
Nascido em 1936, no Rio de Janeiro, o escritor formado em filosofia e psicologia concebeu diversas histórias policiais, a maioria delas tendo como personagem central o delegado Espinosa. O silêncio da chuva, seu romance de estreia, foi vencedor do prêmios Nestlé e Jabuti no ano de 1997.
Neste caso inicial de Espinosa, um executivo é encontrado morto, baleado na têmpora direita, dentro do próprio carro num edifício-garagem. A ocorrência se apresenta como algo desafiador não apenas pela falta de testemunhas ou pistas, mas pelo número de suspeitos que começam a cair de paraquedas na história: uma secretária disposta a mudar de vida, um vagabundo cometedor de pequenos delitos, uma viúva bonita e culta, um sócio com modos de falar políticos e excessivos, uma professora de academia de ginástica temperamental, um professor de faculdade reservado.
Amante da literatura, Epinosa é um sujeito que costuma trazer o existencialismo das obras que leu para sua realidade. Sentado em um banco na praça Mauá, costuma refletir sobre a tênue linha que separa a vida da morte. O fato de possuir grande experiência no ramo policial o faz analisar os motivos que levam um indivíduo a praticar crimes carregados de crueldade. Sua mente é um terreno fértil que o leva a supor inúmeras possibilidades para a morte do executivo, o que o aproxima e distancia da verdade. Por tomar decisões baseadas em sua intuição muitas vezes benévola, Espinosa mostra ser apenas mais um detetive do acaso, que acredita mais em aparências do que em evidências. Solteiro e há muito tempo sem relacionar-se com mulher alguma, mostra-se confuso ao demonstrar seus sentimentos. Apaixona-se por Bia, viúva do executivo baleado, mas não consegue fazê-la tomar conhecimento disso.
Garcia-Roza, com sua narrativa direta e ao mesmo tempo detalhista, aproxima-nos dos crimes que são publicados todos os dias nas páginas dos jornais. Crimes muitas vezes sem solução, realizados por simples seres humanos que buscam a saída para uma vida melhor.