Uma conspiração. É o que me parece. Tão somente.
Ao meu redor, tenta-se construir estruturas que possivelmente se pareçam perfeitas, como se imutáveis. Uma corte, semelhante a de Hamlet, em que as tragédias são seguidas de situações planejadas para parecerem normais. É estranho. Minha natureza humana me compele a acomodar-se, mas meus fantasmas me assombram. Não da mesma forma que o protagonista shakespeariano, pessoalmente, mas em meu interior; mazelas de outra forma que eu sou, talvez a verdadeira.
Polônios, Polônios! São tantos por aí.
Como na peça de Shakespeare, porém multiplicado, vejo Polônio em cada canto. Sim, vejo-o. O olhar astuto num rosto teatralmente inocente. Crio, penso, construo, realizo; e Polônio gasta seu tempo em arquitetar como irá tirar proveito de minhas ações. Busca o rei em seu favor, embora também não seja fiel a ele.
Ah, mas e Horácio? O amigo, aquele a quem devo falar que há muito mais coisas do que a vã filosofia dele supõe? Ele é minha sombra, com quem aprendi a conversar, minha melhor amiga.
Ofélia não existe; e se existe, suicidou-se. Ama-me e por isso abandonou a vida. Não está disponível para mim. Meu amor não é, simples assim.
E eu sigo me sentindo Hamlet, numa Dinamarca moderna, uma cidade brasileira decrépita, decadente.
Mas o pior é que não tenho uma vingança a cumprir, alguém em quem descontar minha angústia; pois eu sou minha corte, minha conspiração, meus problemas.
Tudo está dentro de mim.
Nada está acontecendo.
Apenas em minha cabeça.
Às vezes me sinto Hamlet.