Crônica: Cada um luta por sua própria revolução – Vilto Reis

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Escrevo com a consciência de que serei apedrejado.

A frase que dá título à crônica foi posta por mim em meu perfil no Facebook. Tive algumas curtidas, nada estrondoso. O sentido dela, se revelado, me valeria a cruz.

Não sou contra quem foi às ruas e exigiu seus direitos, pelo contrário, penso que cada um deve lutar pelo que acredita. No entanto, quando alguém me pergunta se fui aos protestos e lhe digo que não, a censura é evidente no olhar. Engraçado, não lembro de ter assinado um contrato de concordância com a opinião do sujeito.

Não critico em nada quem foi às ruas, mas há uma série de outras revoluções que necessitam de luta. Há quem lute contras os problemas sociais; e há quem lute por outros tipos de problemas (morais, emocionais, religiosos).

É difícil explicar, concordo. Talvez valha um exemplo.

Provavelmente, os dois maiores nomes da história recente da Índia são Gandhi e Rabindranath Tagore. Eram contemporâneos e amigos, mas Tagore nunca se envolveu nas “causas” de Gandhi, sua preocupação era com o pessoal/emocional do ser humano. Para ser sincero, identifico-me com esta causa, não com a de Gandhi.

É por esta revolução, a pessoal/emocional, que se ocupa minha escrita. Como leitor, gosto muito de livros de terror, ou horror, como queiram; mas de um tempo para cá, cada vez mais, interesso-me por obras que tratem do que há de sombrio no interior do homem. Meu foco interiorizou-se.

Minha revolução é outra.

E enquanto pensava se devia escrever ou não esta crônica, encontrei um “álibi” para minha ideia em O Animal Agonizante, de Philip Roth. Neste livro, o personagem principal, David Kepesh, em certo momento, explica sua reação à revolução sexual da década de sessenta, nos EUA:

“Para mim, o importante era despir a revolução de sua parafernália imediata, seus aparatos patológicos, suas baboseiras retóricas e aquela dinamite farmacológica que levava pessoas a se jogarem das janelas – deixar de lado o que havia de pior e aproveitar a ideia, dizer a mim mesmo: que grande oportunidade, que oportunidade de fazer minha própria revolução! Não há sentido em me conter só por que, por mero acaso, eu nasci neste ano e não naquele”.

Embora sejam situações diferentes, o personagem aproveita-se duma mudança social para conduzir uma revolução pessoal, a partir do seu ponto de vista, distante do que ocorre ao redor.

É o que tento fazer. Não que não sirvam as causas a que se está a lutar; mas sirvo à fileira que luta por outras mudanças, de dentro para fora, que nasça do coração, uma revolução pessoal/emocional.

É o que digo. Cada um luta por sua própria revolução

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