Desde os 12 anos, depois da 1ª recuperação escolar, anotei tudo que achava importante à marca-texto. No livro de biologia, donde as fotos de tubarões mordiscavam as fotolegendas, os traços amarelos enfeitavam os parágrafos. Nas provas seguintes, minha mente não se esbranquiçava. Primeiramente amarela, ela recuava às palavras que tinham sido marcadas em todos aqueles livros. Eu e o marca-texto nos aliamos. Próxima nota: 9. Nota seguinte: 10.
Em uma noite de estudos que adentravam a madrugada, peguei o marca-texto pelo lado errado. Ele sujou a palma da minha mão bem entre três linhas que se encontravam. Vi Mateus, grandiosíssimo amigo que quase não me lembrava mais, contando a piada da mão amarela. E de pensar que a gente ria disso…
Percebi então que nas mãos amarelas que perderam a piada, ainda vivem as memórias do tato. Se eu pudesse, os antigos toques dessa palma seriam celebrados novamente só através do olhar, que nem acontece com as provas. Queria que o marca-texto fizesse a lembrança viver. Que reproduzisse uma nova existência. Que as memórias criassem forma através da marca na minha mão. Mas a realidade é bem mais destoada do que papel marcado. Deixei o rabisco residir em minha mão até quando pôde. Era ainda uma forma de apreciação do passado.