O mundo nunca mais foi o mesmo depois que o primeiro macaco descascou a primeira banana. Foi a evolução dos tempos. Maior evolução ainda foi quando o primeiro macaco ajudou o segundo a entender a engenharia da casca. “É assim que se faz”, disse. E o segundo entendeu, pois a explicação foi prática. O resto da história vocês já sabem. Estamos todos comendo frutas sem casca.
Um pouco de esforço nunca fez mal a ninguém. Muito esforço só faz bem. Quantas bananas com casca vocês acham que os macacos comeram até tratar de fazerem um pequeno esforço?
Vivi, nos últimos meses, situações de limite. Cheguei a dormir três horas em três dias. O corpo cansa, pede arrego. As pernas tremem ao descer cinco ou seis degraus e os olhos ardem. A barriga não aceita a comida e o pulmão quase não quer oxigênio. O cérebro grita por uma cama. Implora, suplica por um travesseiro enquanto eu insistia em dar cabeçadas no vidro do ônibus. Mas não me arrependo. O vidro sim.
Tinha consciência que não era assim que ganharia nada. Queria mais, mas queria mais através do trabalho. Sabe aquele ditado que fala sobre quem cedo madruga? De alguma forma, ele está muito certo. Não sei se Deus ou a metafísica, mas alguém ajuda.
Ninguém sofre calado. Ninguém quer ser o miserável da vez sem dar um grito. Sem amaldiçoar a sociedade não vale. Sem achar alguém para culpar não tem graça. Subir no ônibus cabisbaixo é a alma do negócio. Espremer-se no ônibus todos os dias deveria ser passível de prêmio. Um suposto sofredor calado. O problema é que a maioria não sofre calada. Por trás da cortina dos olhos recheadas de lágrimas, as pupilas negras – como a alma do homem mais ganancioso – olham para todos os lados. Procurando a plateia. Procurando aqueles que dirão: coitadinho. Esse é o problema. Todos querem ser mártires em busca de um longa-metragem. Todos querem ser os atores principais de um bom drama, mas ninguém quer descascar a primeira banana. Grande parte não quer correr atrás do prejuízo de verdade.
Eu quis.
E quero mais.