Augusto Monterroso é o maior expoente hispânico do gênero mais breve da literatura, o microrrelato, e um dos escritores mais peculiares, não apenas por sua modéstia e simplicidade, mas também por sua grande inteligência e seu humor triste. Autodidata, abandonou os estudos temporariamente, para se dedicar a leitura dos clássicos, como Cervantes, cuja influência é notória em sua obra.
Filho de mãe hondurenha e pai guatemalteco, Monterroso nasceu em 1921 em Tegucigalpa, Honduras, mas em 1936 se mudou definitivamente para Guatemala. Foi nesse país que publicou seus primeiros contos e deu início a sua luta contra a ditadura de Jorge Ubico, fundando o jornal El Espectador com um grupo de outros escritores. Devido ao seu empenho e oposição à ditadura, em 1944 foi exilado para a Cidade do México. Pouco tempo depois, com a queda do governo ditatorial na Guatemala, Monterroso foi designado para um posto menor na embaixada da Guatemala, no México. Anos mais tarde foi cônsul em La Paz, Bolívia. Morou por curto tempo em Santiago do Chile.
Em 1956, retornou, definitivamente, à Cidade do México onde ocupou diversos cargos acadêmicos e editoriais e, é claro, continuar seu trabalho como escritor até o final de sua vida. Em 2003, aos 81 anos, morreu na Cidade do México.
Augusto Monterroso recebeu inúmeros prêmios, tais como: Águila Azteca, mais alta honraria dada pelo governo mexicano; Espanhol Príncipe de Astúrias de Letras, dado à pessoa ou grupo de pessoas cujo trabalho de criação literária represente um contributo relevante para a literatura universal; Guatemala Prêmio Nacional de Literatura, por seu corpo de trabalho, entre outros.
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Esta semana reli o livro Cuentos, de Augusto Monterroso. Uma coletânea de contos breves e microcontos em que encontramos o microconto El dinosaurio, um dos mais conhecidos, estudados e citados da literatura breve. Foi a partir desse microconto que Monterroso ficou conhecido internacionalmente como um dos maiores escritores da micronarrativa.
“El dinosaurio.
Cuándo desperto, el dinosaurio todavía estaba allí.”
Outro microrrelato do livro que merece menção é El eclipse, que conta a história do frade Bartolomé Arrazola que perdido na selva da Guatemala e cercado por indígenas dispostos a sacrifica-lo tem uma grande ideia para evitar o pior. O frade se faz valer de seu grande conhecimento de Aristóteles, que previa um eclipse para aquele dia, para ameaçar os indígenas com extinção do sol, caso o sacrifício fosse feito. O que o frade não sabia é que esses pobres indígenas faziam parte da comunidade maya e que eles, sem a ajuda de Aristóteles, tinham um completo calendário dos eclipses lunares e solares.
“Entonces floreció en él una idea que tuvo por digna de su talento y de su cultura universal, y de su arduo conocimiento de Aristóteles. Recordó que para ese día se esperaba un eclipse total de sol. Y dispuso, en lo más íntimo, valerse de aquel conocimiento para engañar a sus opresores y salvar la vida.”
La brevedad, o texto que encerra o livro Cuentos, aborda o conflito que o escritor de textos breves encontra-se frequentemente. Monterroso, afirma que lhe agrada ouvir que “lo bueno, si breve, dos veces bueno”, mas que no fundo, o que todo escritor de brevidades mais deseja é escrever longos textos, que a imaginação flua sem ser ameaçada pelo ponto final.
“A ese punto que en este instante me ha sido impuesto por algo más fuerte que yo, que respeto y que odio.”
Bom, o livro traz outros vinte e oito textos breves pertencentes originalmente a: “Obras completas y otros cuentos”, “Movimento perpetuo” e “La palabra mágica”. Cuentos, da editora Alianza Editorial é um livro de bolso, no qual temos uma mostra significativa da maestria de Augusto Monterroso na narrativa breve, domínio em que é revelada, sob uma disfarçada simplicidade, uma inesgotável capacidade de criação.
Enfim, para quem gosta de uma boa leitura e, sobretudo pra quem é fã de microcontos essa é uma excelente pedida.