Desliga a TV e vá ler um livro!

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Desliga a TV e vá ler um livro!

A MTV Brasil criou polêmica com a campanha “Desliga e a televisão e vá ler um livro!” no passado, mas será que atualmente, com a internet e a tecnologia, desligar a TV é o suficiente?

Há mais de uma década, a extinta MTV Brasil criava uma campanha de incentivo à leitura. O slogan não poderia ser mais provocador: “Desliga e a televisão e vá ler um livro!”, mensagem forte que vinha antes do canal sair do ar por 15 longos minutos.

A campanha fez barulho e criou polêmica nas mídias tradicionais em um tempo em que a internet ainda não havia se popularizado tanto, mas já existia.

O intuito, à época, era incentivar os jovens a ler mais livros, aumentar seu repertório cultural e se tornar mais crítico diante dos dilemas de uma sociedade complexa. Não resta dúvida de que de alguma forma a MTV revolucionou a TV com essa proposta, jamais se viu um veículo de comunicação sacrificar seu público, ainda mais em favor da literatura.

Por muito tempo, a televisão foi a principal oponente da intelectualidade, assistir a um de seus programas era sinônimo da mais pura indigência cognitiva. Hoje, a tecnologia tem muito mais subterfúgios para seduzir as pessoas, apontar apenas a TV como a principal vilã contra os livros e a leitura é covardia.

Assim como Stanislaw Ponte Preta dizia que ela era a “máquina de fazer doido”, podemos dizer que agora essa máquina é a internet.

O mundo da tecnologia e das redes sociais são a grande vitrine para aqueles que querem mostrar o quanto são felizes, bem sucedidos e otimistas, criando assim, ideias falsas de bem-estar de maneira midiatizada.

Nada mais certo, as redes sociais da internet vivem de aparências, a imagem é mais importante do que o conteúdo, nada e ninguém precisa ser, basta parecer. É mais fácil bancar o intelectual em mediações digitais do que enfrentar horas de leitura e solidão.

Este fenômeno nos remete ao filósofo francês Guy Debord, que ainda na década de 1960 escreveu sobre a “Sociedade do espetáculo”, conceito que previu um mundo regido por miraculosas imagens numa sociedade em que tudo facilmente se transformaria em espetacularização, muito próximo do que foi descrito em romances como Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley.

Em uma análise mais realista dos acontecimentos, apenas desligar a TV não resolveria o quadro de baixos índices de leitura, principalmente entre os jovens. A campanha encabeçada pela MTV foi um começo, diga-se de passagem, à frente de seu tempo. Contudo, esperar que a sociedade mude sua rotina cultural por conta de um simples apoio midiático e nenhuma vontade política, é ser ingênuo, demasiadamente ingênuo.

Dizer que o mundo está em transformação é chover no molhado, ele muda cada vez mais rápido, até mesmo o canal que empunhou essa campanha já não existe mais, foi engolido por seu próprio anacronismo.

A única coisa que nos resta é atualizar o discurso: Desliga o computador e vá ler um livro!

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