Sobre o fechamento da editora Cosac Naify
Aos poucos notamos uma pesada realidade: quase ninguém está interessado em boa literatura, discussão, reflexão, clássicos, livros… aos poucos, com doloridos beliscões, nós aprendemos e engolimos a verdade.
O mundo tem diferentes prioridades e outras formas de sustento. Outras que rendem bem mais que papel impresso e uma capa bem elaborada. Foi assim que um falho sistema educacional fez muita gente nunca ler um livro; ler rótulos já é mais que suficiente. E o suficiente é necessário para não precisar pensar, gostar de ler, ler, refletir, valorizar a literatura. É assim que as prioridades falham e muita cultura morre, inclusive a literatura.
Sentimos o peso de uma difícil realidade esta semana, quando um pronunciamento de Charles Cosac anunciou o fechamento da Editora Cosac Naify. Depois de 20 anos de atuação, desses com 15 sem lucros, o anúncio chegou em uma publicação do Jornal Estado de S. Paulo. Atravessou a garganta como uma espinha de peixe com gosto de uma dolorosa traição. Uma traição do mundo, do universo, da vida. A editora que admirávamos, e que mais do que imprimir livros: os deixava mais belos, colecionáveis, tragáveis, lindos. Trazia para nós, incompreendidos – e solitários – amantes de literatura um pouco de felicidade, de publicações relevantes, de boa, da mais boa literatura e nos proporcionava uma prateleira ainda mais bonita e com um conteúdo sem preço.
O mundo literário está de luto; 30 de novembro trouxe uma noite carregada de vazio. Uma perda que moveu a todos: editoras, escritores, leitores. Um mercado inteiro ficou órfão. Uma das piores notícias de 2015.
O catálogo, que continha desde Tóstoi a Valter Hugo Mãe será vendido. O futuro? Esse ainda não tem destino, por enquanto está preenchido de vazio.