E-Book: Três Pontos de Vista

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Eu sou, antes de tudo, leitora. Porém, sou também escritora. E por fim trabalho em uma editora. Logo, vejo a questão do e-book não através de um, mas de três pontos de vista, que são completamente diferentes entre si.

Como leitora, não gosto de livros virtuais. Prefiro os livros impressos, tradicionais. Questão de opção, de gosto, de preferência. Mas não tenho nenhuma dúvida de que o e-book veio para ficar.

Como escritora, adoro livros virtuais. O que todo o escritor quer é ser lido, e quanto mais canais disponibilizarem sua produção, tornando-a acessível para o maior número de pessoas possíveis, melhor.

Como editora, posso dizer que o furo é mais embaixo. A maioria dos leitores gosta de e-book, e cem por cento dos escritores querem disponibilizar seu livro em formato e-book (nem que seja para ser uma opção a mais, após a publicação tradicional). A vilã da história, como sempre, termina sendo a editora, acusada de cobrar preços altos demais por livros que não são impressos.

E, é verdade: os custos de impressão são altos, e acabam aparecendo no preço final de um livro. Mas em tiragens altas (a partir de 500 exemplares), o custo por livro em impressão acaba se tornando baixo. O mesmo ocorre com os custos de produção (criação de capa, diagramação, ilustração, registros, etc.).

Investe-se um valor alto antes mesmo do livro entrar em processo de impressão. Contudo, este custo, quando dividido pelo número de exemplares impressos, em se tratando de uma tiragem alta também fica baixo.

A diferença é que, no caso de e-books, não existe uma ‘tiragem’. O livro é produzido, disponibilizado nestes diferentes canais (o que também possui um custo), e não há como saber quando e nem quantos livros serão vendidos.

Se uma editora investiu 5 mil reais na produção e impressão de 500 livros, sabe que cada livro lhe custou R$10, e que se vender cada exemplar por R$20, irá cobrir seu investimento e ainda ganhará R$10 por exemplar vendido.

A editora pode se programar (organizando um lançamento, por exemplo) para, dentro de seu planejamento, vender estes 500 exemplares em um determinado tempo (60 dias, talvez).

É possível realizar projeções, e deliberar ações para que ocorra a venda desta tiragem em um prazo X.

Com o e-book isso se torna bem mais complicado.

A realização de um lançamento, uma das ações mais garantidas para vendas de livros, não pode ocorrer. Se houver investimento em divulgação deste e-book, este investimento também aparecerá no preço final do livro virtual, como ocorre com o livro impresso.

Logo, as editoras terminam obrigadas a deixar o valor do e-book alto, para que possam, ao menos, cobrir os investimentos em produção e tecnologia para distribuir este e-book.

Tudo se torna ainda mais delicado se levarmos em conta que a leitura digital é algo ainda recente, e somente engatinha. Não há uma venda massiva de e-books nem mesmo de autores consagrados. Assim, é necessário haver prudência por parte de quem produz e vende este produto – no caso, a editora.

A verdade é que, se um produto custa caro, há um motivo para isso. Nenhum vendedor gosta de vender um produto de preço alto, pois sabe que isso dificultará sua venda e, naturalmente, seu lucro. E, se ele o vende, tenham certeza de que, em 90% dos casos, é por que este produto custa caro também para o vendedor.

De qualquer maneira, estou convencida de que, em pouco tempo, a leitura digital se tornará tão ou mais natural que a leitura tradicional, o que aumentará a venda de e-books e, claro, diminuirá seu preço.

Este será o momento em que estes três pontos de vista estarão satisfeitos: a editora, que venderá mais; o leitor, que comprará mais barato; e o escritor, que será mais lido.

Chegaremos lá.

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