Ou sobre como o mercado editorial vem finalmente mostrando sinais de diversificação
Não é nenhuma novidade a crise que abate o mercado editorial brasileiro – e mundial, em certa medida. Mas, como em toda boa crise de mercado, há sempre aquele que pouco se abalam com ela ou mesmo acabam por tirar vantagem; sim, geralmente os gigantes do mercado que passam a engolir, ainda mais, seus pequenos concorrentes. Contudo, dessa vez, parece que não somente os peixes grandes estão sabendo aproveitar a maré. Aparentemente, os peixes pequenos – e quanto menor melhor – não estão servindo apenas de impulso para os grandes dessa vez; mas estão tirando seu próprio proveito.
É exagerado, quase com certeza, falar em grandes crescimentos e alavancadas decisivas. Mas é facilmente perceptível o quanto as menores editoras, especializadas em nichos de mercado muitas vezes ignorados pelos grandes peixões que tanto amamos, também parecem estar sabendo valorizar seus leitores e suas especialidades em um momento que seria de se esperar uma total perda de essência em favor da sobrevivência.
Longe de conseguirem pegar caronas nas grandes ondas de sucesso, como os livros de youtubers – o que provavelmente é visto com ótimos olhos por seus leitores – as pequenas editoras acabam investindo mais pesadamente em obras literárias cada vez mais próximas de sua proposta de publicação. Consequentemente, o público – ainda que talvez um pouco mais reduzido por isso – acaba cada vez mais fidelizado, ainda que mais restrito. Encontrar uma editora que se alinhe inteiramente aos seus interesses em determinado assunto, mesmo que não a todos os seus interesses, é um fator extremamente diferencial aos olhos de qualquer leitor; não que seja desvantagem editoras diversificadas, com selos específicos e um leque de assuntos mais amplo.
E claro que nossas queridas grandonas sempre vão ter uma publicação na manga que fará tantos nossos corações quanto bolsos chorarem – motivos à parte. Por outro lado, além do preço nem sempre atrativo, as publicações das grandes editoras variam extremamente de áreas de interesse, o que nem sempre ajuda a fidelizar um nicho específico de leitor, que acaba por encontrar em uma editora bem menor uma quantidade de livros relacionados a sua área de interesse muito maior.
A diferença de uma editora de grande porte para aquela pequenininha é a quantidade de publicações oferecidas sobre determinado assunto. Esperar meses e meses pelo lançamento de um único livro de certa área por uma grande editora – ainda que muitas vezes se trata de uma obra canônica -, é muito menos estimulante ao consumo do que ter um catálogo todo de possibilidades de novas descobertas.
Contudo, ninguém tem nada a perder com isso. Uma reacomodação, ou mesmo diversificação, do mercado leitor no momento atual da economia brasileira, é um impulso precioso para o mercado editorial como um todo. Encarar a especialização editorial como uma oportunidade de alavancagem para todo o setor é o melhor modo de encarar as mudanças atuais.
Tentar ir na contramão do movimento do mercado consumidor, e das claras tendências que têm se apresentado para os participantes do meio, é um sinal claro de que o conservadorismo editorial estaria, mais uma vez, com as garrinhas de fora.