Elvira Vigna e por que você precisa lê-la

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(Quase) nunca faz mal conhecer uma autora que te faz perder o ar (ou: sobre a escritora brasileira Elvira Vigna)

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Quando pensei em escrever sobre Elvira Vigna, percebi a cilada em que havia me metido. Apesar de não ter comentado com ninguém sobre o assunto, eu já tinha colocado na cabeça que queria fazer esse texto. Então, basicamente, eu já estava em débito comigo mesma. Mas qual o motivo para tanta preocupação com um texto sobre uma autora? É simples, certo?

Não! Nem um pouco simples. Especialmente quando se trata de Elvira Vigna.

Veja bem, querer falar de Elvira é querer falar de muita coisa. Muita coisa mesmo. Afinal, não bastou a ela ser uma escritora completa, mas uma escritora completa com uma capacidade enorme de aprofundar assuntos – ainda que de forma sutil. Então, tratar dela e de sua obra é, infalivelmente, uma tarefa que fica sempre incompleta. Mas o que se pode fazer é tentar transmitir todo esse sentimento de fascínio e, entre um motivo e outro, explicar tudo aquilo que Elvira nos faz sentir.

1. Você não tinha nem que estar lendo esse livro, ele não foi feito para ser lido

Não que isso esteja perto da verdade, mas é essa a impressão que fica das narrações da autora, tamanha é a quantidade de alusões e acontecimentos jamais explicados, trânsito de personagens que não chegamos a conhecer, frases incompletas. Cria-se a sensação de que o que se tem em mãos é um texto íntimo, truncado e lacunar que pareceria completo somente nas mãos daqueles que viveram os bastidores da história.

2. Você não tinha nem que estar lendo esse livro, e minha linguagem vai te provar isso

Não somente no que trata das lacunas de explicação e contextualização, Elvira transpõe para sua linguagem narrativa as mesmas características. “Arisco” talvez seja a palavra certa para descrever seu estilo, uma autora que mais dá a entender do que de fato revela, “promete, mas não cumpre”, conta mas não conta. Suas narrativas são um constante vai e vem entre confirmação e dúvida, embasadas em uma linguagem esquiva que faz tudo, menos “te contar aquela história”.

3. Você não tinha nem que estar lendo esse livro, mas eu não me importo

Pensando nessas características, e na narrativa de forma global, a conclusão à que se chega é que Elvira realmente não se importa com seu leitor – com a melhor das intenções. Ela conta o que acha que tem que contar, o que vale a pena, o que – de sua visão privilegiada de autora – vai de fato fazer diferença para aqueles que a leem.

Não se importa no sentido de que não há nada que eles não possam saber, há apenas coisas das quais não sabem. Não se importa com o que eles sabem ou não, com o que vão entender de suas narrativas ou não. De uma forma ou outra Elvira põe à disposição do leitor o mais íntimo de seus personagens, deixando o entendimento unicamente a nosso cargo. Se nos deliciamos com as possibilidades, ou se preferimos reclamar das lacunas não preenchidas, fica a nosso critério.

4. Você não tinha nem que estar lendo esse livro, mas já que começou agora termina

Claro que todos esses diferenciais demandam algum tempo para que nos acostumemos. O que acontece em seguida, infelizmente, é inevitável. Quando se compreende que Elvira revela, de fato, pouquíssimo sobre seus personagens que aparentam carregar uma densa bagagem pessoal, não há como não se entregar a uma leitura constante, na esperança de que se obtenha um pouco a mais do que nos foi revelado. A esperança de uma revelação bombástica, uma guinada na narrativa, um clímax inesperado são o combustível principal dos leitores de Elvira Vigna; combustível esse que é consumido aos poucos, com doses homeopáticas de revelações emotivas e reflexões densas.

Como se tudo isso já não fosse suficiente, ainda há mais um fator de conquista: as obras são parte de um “estudo” sobre o amor, as emoções. A autor revelou em entrevista que o que pretende com seus livros é abordar o que se entende por amor entre pessoas, quais são as possibilidades dessa situação. Entregar-se a um livro de Elvira é entregar-se, portanto, a toda uma viagem emocional sobre as diferentes perspectivas e formas da situação amorosa.

Tudo isso de uma “distância segura”.

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