Engrenagens e vapor: uma introdução ao Steampunk

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Tudo que você precisa saber sobre este gênero de vanguarda, embora movido a vapor.

steampunk_by_garnettrules21-d2dbv7e“Espero que tenhamos colocado Steampunk o suficiente, seja lá o que for isso”, disse Homer Simpson num determinado episódio onde escreve um livro em conjunto com Bart e seus amigos, e essa é a reação de muitas pessoas que ouvem o termo pela primeira vez. O steampunk é um sub-gênero único da ficção científica que vem ganhando destaque nos últimos anos, sendo escrito por diversos autores mundo afora, e difundido pelo Brasil desde 2008.

Sua característica definidora é o retrofuturismo, mostrando como seria a sociedade se ela evoluísse com máquinas movidas a vapor tendo o carvão e outros combustíveis fósseis não refinados como matriz energética, ao invés do avanço tecnológico na eletrônica que vemos hoje. Os aparelhos desenvolvem-se sobretudo a partir de um paradigma analógico, muito embora comece ali a despontar o conceito de sistema digital.

Além do paradigma tecnológico, existe todo um conceito de tendências sociais, de moda e economia inerentes ao steampunk. Os aspectos culturais do gênero remetem principalmente à época vitoriana, misturados com maquinários da época em versões mais avançadas, como balões voadores, computadores mecânicos e armas de fogo exóticas. No entanto, o steampunk também pode aparecer em outros cenários, como em histórias no velho-oeste americano, mundos alternativos ou misturado com gêneros de fantasia e horror.

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Cidade steampunk, movida a engrenagens e vapor – Autor Desconhecido

Apesar das raízes nos tempos de Verne, a consolidação formal como um gênero independente veio com obras do final dos anos 70 e ao longo dos 80. Livros como Morlock Night e Infernal Devices: A Mad Victorian Fantasy, de K.W. Jeter; The Anubis Gates, de Tim Powers e Homunculus, de James Blaylock ajudaram a dar forma definitiva ao steampunk. O próprio termo foi cunhado em carta de K.W. Jeter a um periódico de ficção científica, em 1987. Um trecho da carta diz: “Pessoalmente, acho que fantasias Vitorianas serão a próxima sensação, contanto que consigamos um termo que englobe os trabalhos de Powers, Blaylocke e os meus próprios. Algo baseado na tecnologia própria da época, como ‘steam-punk’, talvez.”

Levou duas décadas para o steampunk se tornar “a próxima sensação”, como Jeter prometera em carta. Nos anos 90, títulos importantes foram lançados, como The Difference Engine, de William Gibson e Bruce Sterling; Lord Kelvin’s Machine, por James Blaylock e The Steampunk Trilogy, de Paul di Fillipo (primeiro livro a utilizar o termo no título). Mas foi no começo dos anos 2000 que uma verdadeira explosão de obras mundo afora começou a aparecer, e não parou desde então.

Além do mundo literário, o estilo invadiu outras mídias como quadrinhos, video-games, televisão, cinema e até no mundo da música. O recente filme de Sherlock Holmes com Robert Downey Jr. mostra uma ambientação característica do mundo steampunk, assim como Van Helsing e A Liga Extraordinária. Em séries, pode-se citar Warehouse 13 e a animação Avatar: a Lenda de Korra, que utilizam o steampunk como um tempero ao cenário. A influência em video-games varia de indireta, presente em vários títulos, à direta, como em jogos como Nostalgia e Neo Steam: the Shattered Continent. O gênero tornou-se tão independente e expansivo a partir do séc. 21 que invadiu a música, com bandas temáticas como o Clockwork Quartet, e criou nichos de fãs ao redor do mundo que fazem convenções com cosplays e encenações.

O steampunk no Brasil apresenta força crescente principalmente nos últimos anos. Em 2008, Bruno Accioly e Raul Cândido Ruiz criaram o Conselho Steampunk, composto por lojas em diversos estados, agindo de maneira independente e reunindo entusiastas locais do gênero. Uma dezena de outros projetos nasceram dessa integração nacional, como convenções, oficinas, palestras e feiras. Iniciativas como a revista Vapor Marginal ajudam a divulgar os trabalhos do Conselho e agregar novos seguidores ao gênero.

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Cosplay steampunk durante convenção

Além disso, há livros clássicos chegando em terras nacionais. Um exemplo disso é A Máquina Direfencial, de William Gibson e Bruce Sterling e Anno Dracula, de Kim Newman; ambos pela editora Aleph. Também há iniciativas como o livro Vaporpunk, coletânea de contos organizada pela editora Draco e o livro Steampunk – Histórias de um passado extraordinário, da editora Tarja. Autores brasileiros também começam a produzir suas próprias obras: O Baronato de Shoah – a Canção do Silêncio, de José Roberto Vieira; Dearly Departed – O Amor Nunca Morre, de Lia Habel e Crônicas Póstumas, de Bruno Accioly são apenas alguns exemplos disto.

O desafio atualmente para os entusiastas no Brasil é, nas palavras de Bruno Accioly: “… Com o poder de comunicação e divulgação oferecido pela tecnologia atual o que me parece é que podemos esperar alcançar uma massa crítica de produção e consumo que torne o subgênero mais conhecido e mais relevante do ponto de vista cultural.” (entrevista cedida ao site Bookolicos, em julho de 2013.)

A Rua das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, em concepção steampunk na obra Crônicas Póstumas, de Bruno Accioly.

O steampunk estabeleceu-se não apenas como gênero literário, mas principalmente como um estilo independente, capaz de penetrar em qualquer mídia cultural e ser adaptado ao gosto de quem o utiliza. É capaz de nos próximos anos vermos cada vez mais esse estilo, antes tão pequeno, invadir a cultura pop e abarcar para si fãs de outros nichos, crescendo e passando a ser tratado cada vez mais como algo único, não mais um sub-gênero da ficção científica.

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Conheça mais sobre o Steampunk

Steampunk – Site em inglês agregador de matérias e notícias relacionadas ao gênero. Bem completo e diversificado.

Steampunk Magazine – Revista online em inglês sobre steampunk.

Steampunk – Site oficial do Conselho Steampunk no Brasil (também no Facebook).

Revista Vapor Marginal – Site oficial da revista.

Literatuscast 004 – Engrenagens e vapor na LITERATURA STEAMPUNK – Com a presença de Bruno Accioly e José Roberto Vieira, autoridades no assunto.

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