Entenda por que livros podem virar papel higiênico

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Frequentemente, livros são queimados, picotados, por questões de censura ou problemas do mercado editorial, o que gera feridas no coração de leitores

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Os tempos são duros para os amantes dos livros. A editora Cosac Naify, além de encerrar suas atividades, ainda pode transformar o restante de seu estoque não vendido em papel higiênico! Isso mesmo. A decisão ainda não foi tomada e enfrenta resistência, porém é uma possibilidade. Para os leitores fiéis, é de cortar o coração. Para os editores, um caminho prático, ainda que seja encarado como uma das últimas alternativas para se livrar dos livros encalhados e reduzir as despesas de armazenamento.

E essa é uma realidade. Segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, em 2015, 57 milhões dos 446 milhões de exemplares impressos no Brasil não foram vendidos. Se transformados em aparas, o valor dos livros se reduz a quase nada. Por exemplo, O Código da Vinci, que custa R$ 44,90 pela editora Arqueiro, em aparas, valeria R$ 0,40. Após o picote, 70% das obras vira papel higiênico – e, ainda por cima, de má qualidade, por causa da folha dupla.

Mas não haveria outras opções menos drásticas para acabar com o estoque de livros não vendidos? Sim, porém nem sempre são viáveis. As editoras reclamam que doações para bibliotecas são processos burocráticos, que cobram frete, fora a impossibilidade de uma só biblioteca receber uma enorme quantidade de um mesmo exemplar. Além disso, doações para o governo são encaradas como um risco, já que o poder público pode deixar de investir nos livros se passar a recebê-los gratuitamente. Outra possibilidade é realizar saldões dos livros encalhados. Porém, a medida nem sempre queima todo o estoque, e o contratempo continua.

O problema não se dá apenas em nível nacional. As sobras de estoque são uma consequência da lógica de mercado capitalista, que produz grandes tiragens, sobretudo de best-sellers. Para as editoras, é uma questão burocrática, ainda que saibamos o valor simbólico irreparável de uma obra literária. Nesse ponto, os ebooks são mais práticos e demandam menos custo geral; no Brasil, porém, eles ainda não possuem um grande número de adeptos.

Frequentemente, livros são queimados, picotados, por questões de censura ou problemas do mercado editorial. Como a comunidade de pessoas-livro de Fahrenheit 451, que memorizam seus livros favoritos para passar adiante seu valor, resistimos, pois as grandes obras são feitas de ideias e não de papel. Ainda assim, imagine se limpar com pedaços de Guerra e Paz. Pois é. Parece que o capitalismo sabe acabar com o romantismo da palavra escrita.

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