Entre nós & entrelinhas: Escritor, profissão fantasma – Cláudia de Villar

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Para que não pensem que ao postar aqui meus relatos vividos que eu só vivi fatos tristes, trago hoje uma experiência maravilhosa!
Certo dia, num dos dias em que ocorre a leitura dos livros da minha caixinha, um aluno veio me perguntar quem era a pessoa que havia escrito o livro que ele estava lendo. Eu, além de mostrar onde estava o nome do autor, mostrei também o nome do ilustrador, da editora, enfim, apresentei para ele as pessoas que estão por trás de uma obra. Para meu espanto ele me olhou como que estivesse pensando: “Bah… tudo isso?”. E eu, ao perceber a pergunta que estava por trás daquele questionamento interno, fui logo explicando tudo para a turma toda (aproveitei o momento).
Imaginem que, para alguns dos alunos, a figura do escritor e do ilustrador está muito longe de ser uma pessoa de carne e osso. Assim como são os médicos, engenheiros, professores, arquitetos, ou seja, para muitos ali, sentados à minha frente, escritor era alguém que ‘vivia’ num lugar escondido, havia algo de mágico, algo como se escritor não fosse real. E eu perguntei a eles sobre os escritores de novelas que apareciam em entrevistas na tv, e de como eles eram reais, de carne e osso, mas mesmo assim, alguns ainda faziam cara de “Ah… não acredito”.
E, naquele instante, eu voltei a refletir sobre a importância das escolas em levarem para as suas dependências estudantis um escritor e sua obra, promovendo, dessa forma, um debate. Claro que, alguns dos meus alunos não tiveram essa reação, mas fico pensando nas escolas da periferia, do Interior, sei lá. Há diretores de escolas que só pensam e falam sobre a escrita, os livros e escritores em época de feiras de livro de sua cidade ou de sua escola, depois nada mais. Promovendo, dessa forma, um distanciamento entre aluno e escritor. Entre aluno e ilustrador. Trago aqui um apelo, um alerta!!! Atenção diretores, escolas, professores! Escritor não é um fantasma!
A partir dessa minha conversa com meus alunos passei (e faço isso quase todos os anos – sempre que posso) uma semana literária de alunos. Eles (OS ALUNOS), após um ano de leitura, escrevem seus próprios livros. Isso mesmo. Após decidirmos, em conjunto, o gênero mais adequado, produzimos um livro. O livro da turma! Cada um faz uma poesia ou um conto, um texto pequeno e eles mesmos ilustram. Depois, xerocamos, grampeamos e vendemos na escola. Ah com direito à Dia de Autógrafos e tudo!
Adoro essa prática! E eles também.
E, para me deixar mais contente, aquele mesmo menino que veio me perguntar sobre o autor daquele livro que ele tinha em mãos, após participar da produção do livro da turma me disse, todo feliz:
– Profe., adorei fazer o livro. É bem legal ver as outras pessoas lendo o que a gente escreve. Quando crescer eu quero ser escritor!
Fica a dica.

Luz e livros para todos.

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