Entre nós & entrelinhas: O sabor dos livros – Cláudia de Villar

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Antes que você pense: Essa daí deve ter comido chocolate demais na Páscoa e enlouqueceu, portanto eu vou logo manifestando a minha defesa: Eu sou normal, gente! Apenas gosto dos sabores dos livros. Uns são doces, outros salgados, uns amargos, uns sonsos, assim, meio sem gostos. Mas todos são palatáveis, irrecusáveis, degustáveis.

Quem nunca provou não sabe o que está perdendo. Os romances têm gostos açucarados, adocicados. Deixam para trás um gostinho de ‘leite condensado’. Podem vir em forma densa, mas os seus gostos são suaves. Outros são mais fortes, encorpados, repletos de sal. Ou carregadinhos de pimenta, mas são comestíveis. Deixam a gente com sede de mais e mais leitura. Alguns são quase sem gosto, temos que fazer um esforço pra nomeá-los, classificá-los, engoli-los. Mas descem pela garganta sem arranhá-la. Estes são como remédios, temos que tomá-los para curarmo-nos de algumas dores, mas somente engolindo-os é que poderemos dizer que eles não são bons. E há aqueles super fortes, como um café sem açúcar, ou um conhaque, são encorpados, cheios de cheiros e aromas. São livros gostosos de serem saboreados e que deixarão seus gostos em nossa memória. Salivaremos a cada vez que lembrarmos deles.

Há sim, sabores nos livros. Livros de aventura com o gosto de quero mais, os de ação com o gostinho de rendição, de emoção, de empolgação. Existem também os biográficos, gostos clássicos, há os de terror, gosto amargo, difícil de engolir, mas marcante, com sabor. Lembraremos destes quando estivermos sozinhos à noite, deitados. Seu gosto virá até nós. Os livros e seus sabores, seus licores, seus amores, e nós, os eternos degustadores.

Tem quem diga que os livros passam despercebidos pelas nossas vidas. São sem gosto. Ah, sinto pena destas almas esfomeadas. Magras de leituras, secas de alimento literário. Pobres corpos esqueléticos. Sabemos que corpos e almas magras, secas e esqueléticas caminham pelas ruas deste mundo sem força e sem vida. Caminham e tão somente caminham. Não sobreviverão aos invernos gélidos. Faltam para elas as calorias encontradas nas páginas dos livros, nas folhas encorpadas. Suas línguas não guardam os sabores. Desta forma, as palavras que saem de suas bocas são vazias de argumentos. Saem magras. Desta forma, os que não conhecem os sabores dos livros não sabem o que responder quando indagados sobre o que eles têm a dizer sobre O sabor dos Livros. Nunca comeram, não degustaram. Portanto, não leram, não viajaram, não amaram, não saborearam, não viveram.

Lanço uma campanha contra a Fome Literária. Fome que mata não somente o corpo, mas a alma do vivente sem vida, sem comida, sem leitura!

Procurem, prezados famintos de livros, nas livrarias, na biblioteca mais próxima a comida literária! Desta forma, seus corpos e suas almas ganharão forma e espírito. E seu paladar gosto e sabor.

Luz e livros a todos.

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