Fui sequestrada! Mas não paguem o meu resgate. Não quero, em hipótese alguma, ser resgatada. Quero me manter cativa, presa, imobilizada por eles.
Estar nesse cativeiro me faz feliz. Jamais imaginei que isto poderia acontecer com alguém: Não querer ser salvo. Imagine! Mas aconteceu comigo. Essa é a mais pura verdade: Fui sequestrada por eles e adorei!
Primeiro veio a Maria Clara Machado, como o seu Pluft, o fantasminha. Eu ainda era criança, tinha apenas sete anos, mas ela não me poupou, foi decidida em me oferecer a doce oportunidade de viajar por entre as páginas de sua história. Eu tentei resistir. Chorei, não quis ir. Neguei-me a embarcar nessa viagem, mas ela foi mais forte e eu parti para a minha primeira viagem.
Depois veio Fernanda Lopes de Almeida, com o seu Soprinho. Novamente, eu lutei. Com unhas e dentes. Afinal, eu já havia viajado uma vez, pra que outra viagem? Porém, Fernanda também estava incumbida dessa tarefa cruel: sequestrar-me. Lygia Bojunga Nunes, com Os Colegas também não teve pena de mim. Trouxe palavras e personagens cativantes e marcantes, sem chance de fuga. Porém, José Mauro de Vasconcelos, com o seu Veleiro de Cristal deu o golpe fatal. Aprisionou-me de tal forma e força que eu mal podia falar, apenas olhava, com admiração, as palavras bordadas nos papéis em minhas mãos.
Mas o mais cruel de todos foi Antoine de Saint-Exupéry com O Pequeno Príncipe. Esse foi sádico. Envolveu-me por inteira. Mãos, pernas, braços e corpo presos na mesma teia literária. Eu era somente olhos esbugalhados e coração saltitante.
Naquele momento da minha tortura eu percebi que eu não teria como escapar. Meu sequestro foi perfeito demais. Não haveria para mim outra saída senão entregar-me, para sempre, à Literatura.
Oh, doce loucura. Oh, doce aventura. Oh, doce Literatura! Sou sua, sou sua!!!
Graciliano Ramos, com a sua Baleia de Vidas Secas foi malvado. Mexeu com minhas lágrimas. De tanto elas serem provocadas com a sua obra, elas surgiram sem medida. Chorei. Lia e chorava. Era o sequestro perfeito. O sequestrado queria, desejava estar ali.
J.M. Coetzee e Franz Kafka com a Vida e época de Michael k e com O Processo, sucessivamente, finalizaram o meu sequestro. Era o meu fim. Era o meu novo começo. Renascia uma nova Cláudia. Já não era mais eu. Era uma leitora voraz.
Sim, fui sequestrada, queridos leitores, mas não quero que ninguém pague o meu resgate. Quero, preciso permanecer aqui entre os livros, as páginas, as folhas, os papéis, as ideias, as viagens, entre as diversas formas de vida que eu encontro em cada obra, cada linha escrita, cada sonho digitado, cada sopro datilografado (ainda existe máquina de datilografia? Estou presa há tanto tempo que nem sei).
Não paguem o meu resgate. Não quero sair daqui. Quero permanecer nesse cativeiro literário.
Quero estar aqui! Preciso estar entre eles, os autores, obras, criadores, inventores, ilustradores, sequestradores. Enfim, houve um sequestro. Sequestraram eu de mim.
Deixem-me aqui!
E você, querido leitor, já foi sequestrado? Conte-me como foi o seu sequestro.
Luz e livros a todos.