Bom dia, leitores! Estava ansiosa para continuar a nossa conversa sobre o “despertar para a leitura”, envolvendo leitores mirins. Antes que passemos para a nossa segunda pergunta, sinto que devemos concluir o assunto anterior. E aí você me pergunta: “Mas já não havia terminado este assunto?” E eu respondo: Não, este é um assunto que tem muito ‘pano pra manga’, ou seja, as respostas à primeira questão formulada em minha coluna: “Por que é tão difícil despertar o gosto pela leitura de obras literárias em crianças?” são infinitas, pois há uma vasta quantidade de pais e professores por este Brasil e cada uma destas criaturas terá uma resposta para dar a esta questão.
Na coluna anterior, ao falarmos sobre este tema, eu me referi aos exemplos de leitores que tivemos em nossa vida e, desta forma, sugeri que vocês pensassem em seus pais (deveriam ser a primeira referência de leitor) e seus professores (que tem em sua profissão o dever de ensinar a ler livros). E, entre estes dois pontos de referência citados, eu, como professora, quero me dirigir hoje ao referencial professor. Em se tratando de professores incentivadores da leitura não estou aqui me referindo às leituras de textos para interpretação ou compreensão textual, mas à leitura de obras literárias. E é exatamente aí que mora o perigo!
Como ensinar a ler obras literárias se a criatura não gosta de ler? E, por experiência própria, sei que crianças adoram “imitar” seus professores. Como eles irão imitar ou tentar imitar seu modelo referencial de leitor se seu professor não fornece nenhum exemplo? E, muitas vezes, passa para seus alunos que ler é obrigação e não uma diversão (eis aí mais um assunto a ser tratado por aqui numa outra oportunidade). Bem, quando isto acontece, dificilmente o aluno encarará o livro com bons olhos e está aí formada a primeira imagem da Literatura na cabeça da criança: “Devo ler porque sou obrigado, mas ler é muito chato e não serve para nada. Afinal, nem a minha professora gosta de ler”.
Para vocês verem como é difícil a coisa. Não adianta o governo mandar caixas e caixas de livros para as escolas se quem deveria apresentá-los aos estudantes faz exatamente o contrário, subtraindo dos alunos a chance de manter um contato físico com os livros ou quando eles decidem levar o aluno à biblioteca escolar ou levar os livros para a sala de aula, apenas despeja-os para os alunos, sem nenhuma prévia apresentação, sem incentivá-los a ler, sem dar início ao prazer da leitura. Nós, que adoramos ler, não conseguimos entender como uma pessoa possa achar a leitura algo desprezível. Mas temos que olhar com outros olhos, temos que ter lentes de raio ‘X’, temos que ver o que está nas ENTRELINHAS desta questão tão polêmica.
Os exemplos… Lembram do que eu falei na semana passada? Onde estão os nossos modelos a seguir? Pai, mãe, parentes, amigos, professores, diretores, governo e suas políticas públicas voltadas ao ensino? Cadê?
Portanto, nós podemos perceber que a formação do leitor literário, que deveria começar em casa e ter a sua continuidade na escola, está enfrentando uma barreira humana e, enquanto esta barreira não for dissipada, teremos cada vez mais telespectadores do que leitores (Por que temos mais telespectadores do que leitores?” – esta era a minha segunda questão formulada em nosso primeiro encontro aqui no site, lembram?).
Ainda bem que nem tudo está perdido. Em minhas visitas por Porto Alegre e interior do RS, como escritora e contadora de histórias ainda vejo muitas professoras e diretoras que se preocupam com a Literatura (este é outro tema que ainda irei abordar por aqui, brevemente) e esta realidade que também encontro me deixa mais otimista: há uma luz no fim do túnel Literário!
Pois bem, após estas linhas escritas, penso que a reflexão acerca deste tema foi feita. Claro que ainda não tenho este assunto como esgotado, mas cá ENTRE NÓS, esta questão não encontrará sossego enquanto tivermos poucos ou maus exemplos de leitores por aí (existem maus exemplos de leitores? Será? – uma nova questão a se pensar, não é?).
Finalizando por hoje, afinal, temos que dar um ponto final nesta coluna antes que vocês se cansem (kkkk), como diz a música (literatura cantada): “Mas é claro que o sol, vai voltar amanhã… Outra vez, eu sei (…)”. Sim, o sol vai voltar amanhã e sim, novas janelas literárias se abrirão amanhã e depois de amanhã. Acredito que nem tudo está perdido e, principalmente, acredito na Literatura e no poder das palavras pensadas e refletidas. Convido a todos vocês, leitores, a levarmos esta conversa para as rodas de amigos, para dentro de nossas casas, nossas salas de aula. Enfim, para dentro de nós.
Obs.: Prometo que na semana que vem eu responderei à segunda questão feita por mim.
Sugestão de obra de estudo e reflexão sobre este tema: A formação do leitor literário em casa e na escola, Caio Riter.
Até a próxima quarta-feira.
Luz e Livros para vocês.