Ganhadora por duas vezes do Prêmio Sesc de Literatura, Luisa Geisler fala sobre seu novo livro, As Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente, sobre a carreira como jovem promessa da Literatura Brasileira, entre outros assuntos.
Antes de entrar na Literatura, gostaria de saber como alguém que estuda Ciências Sociais e Relações Internacionais acaba virando escritora?
Na verdade, acho que eu fui uma escritora que faz Ciências Sociais e Relações Internacionais. Entrei em RI depois de ter feito uma Oficina de Criação Literária. Sempre preferi escrever, era a certeza que eu tinha. No meu primeiro semestre de R.I., já soube que tinha ganhado o Prêmio SESC de Literatura. Quando soube desse resultado, soube que escrever era o que mais importava pra mim. Entrei em Sociais depois por motivos maiores e tal, mas escrever sempre foi o que mais importava no processo.
Qual foi a sensação de ganhar um prêmio literário de âmbito nacional antes dos vinte e como é ser chamada de garota prodígio da Literatura Brasileira?
É tudo um pouco estranho pra mim. Eu me sinto insegura, porque é uma pressão gigantesca, e não é todo mundo que acha isso tudo sensacional. Entendo que incomode. Mas ao mesmo tempo, é uma sensação tão boa que beira o surreal, me pergunto se é isso mesmo. Às vezes me sinto uma expectadora do que acontece, como se “Luisa Geisler” fosse outra pessoa e não eu. Mas não me entenda mal: é um privilégio gigante e espero estar à altura.
Como foi escrever o teu novo romance Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente e quanto dessa sensação surreal você sentiu ao fazê-lo?
Na escrita, mal sinto isso. Tento não focar em questões editoriais, em crítica, nada disso, ao escrever. Durante a revisão, edição, isso aparece, mas a escrita ainda é um processo muito semelhante ao de quando eu estava na oficina de criação literária do Luiz Antonio de Assis Brasil.
Como foi a experiência de ter passado por uma oficina como a de Assis Brasil, onde nomes como Daniel Galera também tiveram tal privilégio?
Eu não tinha noção direito quando entrei. Só ao longo da oficina fui notando o privilégio que tinha. Acertei muitas vezes por ser sem noção mesmo (risos).
Como surgiu a ideia para o Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente e sobre o que o romance trata?
A ideia do livro surgiu da minha vontade de escrever algo que se passava por meio de cartas. Achei um exercício de linguagem interessante, e o resto veio daí. A história é de um rapaz cujo melhor amigo entra em coma. A partir disso, Henrique começa a escrever cartas pra ele, como uma maneira de solucionar tudo, como se quando o amigo dele acordasse pudesse só fazer um back up do que o amigo perdeu e pronto. O título original (Canoas não voam) vinha da ideia da frustração do personagem em relação à cidade, que era uma projeção da frustração dele com a vida. No entanto, não gostava da ideia de ser um livro SOBRE a cidade, sabe? Queria que fosse um livro que tivesse a cidade como elemento. Um título que envolvesse a cidade transmitia uma ideia errada logo de cara.
Em teus romances, os personagens principais são sempre pessoas jovens como você. Isso teria algo de experiência pessoal ou seria apenas um fato ao acaso?
Acho que não… Na verdade, a Clarissa, protagonista do Quiçá, tinha 11 anos. Eu tenho um pouco mais de idade que 11 (risos). O ponto de vista da Clarissa era o de uma criança, então ela não era tão “jovem como eu”. É um pouco complicado, porque só existem dois romances meus até agora. Nos contos vario um pouco mais, mas as narrativas longas casualmente entraram nesse espaço de juventude. Não é de propósito, intencional. E ressalto que a Clarissa, pra mim, não era jovem, sim uma criança.
Quais são os escritores que tu te espelhas para escrever – se é que isso acontece?
Sobre os autores: sempre falo que odeio responder essa pergunta. Sempre esqueço de um escritor ou outro e sempre acabo me arrependendo. Ao mesmo tempo, é difícil citar autores favoritos que não sejam esperados. Cito então Tchekhov, Hemingway, Joyce, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Ruffato, Saramago, Virginia Woolf, Elvira Vigna, entre outros.
Quando tu escreves, tens uma ideia fechada da história – com começo, meio e fim – ou apenas tens um mote e a partir daí desenvolves o resto?
Tenho ideia fechada, mais ou menos. Há espaço pra mudar uma ideia, revisitar, mas se precisar ser reestruturado começo de novo a estrutura. Tento não fazer muitos “remendos”, sabe? A partir do mote desenvolvo a estrutura e a partir daí, escrevo.
Algum plano de romance ou livro para o futuro ou não?
Planos pro futuro… Não exatamente. Estou com algumas ideias soltas que estou deixando juntas pra fermentar. Quero pensar um pouco durante a residência de escritores nos EUA, que farei em setembro. Aí quero sair com um plano mais ou menos pensado.