Entrevista com o escritor André Vianco

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“Escrever Terror e Fantasia no Brasil é sempre desafiador. O leitor é bastante exigente e compara um bocado o que se escreve aqui com o que é produzido fora do Brasil. Por isso, acredito muito em, antes de tudo, contar uma história em que você, autor, acredita.“
– André Vianco

Foto de Rodrigo Esposito

André Vianco começou a sua carreira bancando do próprio bolso seus primeiros livros e indo pessoalmente às livrarias “vender seu peixe”. O ano era 1999, quando Vianco produziu mil cópias de seu primeiro livro, Os Sete, seu primeiro best-seller. Em 2000, foi pessoalmente promovê-lo em livrarias e editoras. Em 2001, a editora Novo Século se interessou por seu trabalho e republicou o livro. Desde então, a parceria entre autor e editora proporcionou mais obras. Em 2009, já com uma grande equipe, produziu o curta-metragem para comemorar os 10 anos de lançamento de Os Sete, você pode conferir o episódio piloto de O turno da noite no blog do Vianco.

Hoje, Vianco já pode se considerar um autor conhecido e respeitado, com vários títulos publicados em duas editoras, Novo Século e Rocco, e é prova de que há literatura fantástica de qualidade no país. Suas obras são marcadas pelo terror e criaturas sobrenaturais (em especial vampiros) e por situarem-se em terras brasileiras. Vianco já vendeu mais de 500 mil livros no Brasil. É um dos autores mais conhecidos pelo público, que tem apreço pelos seres da noite.

Nesta entrevista, Vianco fala sobre a literatura de horror no Brasil, os vampiros adolescentes que ocupam as prateleiras e a atração que estas criaturas exercem sobre as mulheres.

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Elenilson – Voltando um pouco lá atrás, quando foi que o hoje famoso André Vianco olhou para um texto e disse “é isso mesmo o que quero fazer, vou ser escritor”?
André Vianco – Cara, é difícil definir um único texto que tenha feito isso. As coisas se misturaram com cinema e HQ´s, e lá pelos 15 anos de idade eu me peguei escrevendo a minha primeira tentativa de um romance de ficção. Eu li muito na infância e adolescência, de tudo, então foi se formando em meu pensamento essa coisa de contar histórias.

Elenilson – Quando você começou a escrever histórias com esse viés fantástico? Aliás, agora, o fantástico é a nova febre. Aliás, agora, o fantástico é mesmo a nova febre?
André Vianco – Desde a minha primeira tentativa, aos 15 anos, eu já tinha esse olhar sobre o fantástico, eu queria contar histórias incríveis, com raios saindo da cabeça de alguém, também a levada melancólica, gótica, essa estética era algo que eu procurava. Sobre a febre, sim, acho que o fantástico está vivendo um boom de atenção, na literatura e muito mais no cinema, com filmes e animações incríveis sendo produzidas.

Elenilson – Quais seriam os ingredientes fundamentais para escrever uma história sinônimo de sucesso?
André Vianco – Vou reduzir a um ingrediente básico: Paixão. É preciso ter paixão pelo que se escreve, pela história, paixão pelo leitor. Toda a técnica do mundo, sem paixão, não viceja, não conquista. Já o contrário, apesar de antagônico, é possível. É só ver o exemplo do meu romance de estreia, Os Sete, uma história contada com quase 0 de técnica, mas com todo o tesão do mundo. Os sete arrebata leitores até hoje.

Elenilson – Você já se considera um autor renomado? Isso tem tanta importância nesse mundo efêmero literário?
André Vianco – Ainda não me considero renomado, mas a atenção sobre a minha obra vem crescendo até fora do círculo de leitores, é interessante. Agora, sobre a importância, acho que não tem nenhuma. É como você coloca na pergunta, somos efêmeros e não deveríamos nos levar tão a sério no mundo das letras.

Elenilson – Você visualiza os escritores de literatura fantástica ocupando espaço na ABL (Academia Brasileira de Letras)?
André Vianco – Vejo, sim. Não será agora, mas num futuro não muito longínquo, creio que teremos alguns representantes lá, é um movimento inevitável. Estamos formando muitos leitores hoje, leitores que vão amadurecer e nos ajudar a amadurecer com eles.

Elenilson – Eu comecei a gostar de você lendo Os Sete, que comprei numa feira de livros da Igreja Universal e bem baratinho, porque os pastores disseram que era um livro do demo. Você já lançou: Sétimo, O Senhor da Chuva, Semente do Gelo e A Casa. Todos essas obras são com temáticas focando o terror e o suspense?
André Vianco – O que todas as obras têm de universal, não a igreja, é a questão da nossa finitude, da nossa fragilidade, como disse antes, carrego um olhar melancólico no meu texto, nos pontos de vista que proponho para minhas personagens e aventuras.

Elenilson – Na verdade, você já era um autor best-seller antes mesmo da chegada dos downloads – que acabou sendo uma ferramenta de marketing interessante para impulsionar ainda mais suas vendas.
André Vianco – Meia verdade. Eu publiquei no ano 2000. A internet e os downloads já estavam ai. Na verdade, naquele começo de relacionamento com o leitor, a minha ferramenta de marketing era o e-mail, depois a coisa foi evoluindo para o Orkut e hoje estamos na era Facebook, que alguns agouram desde já, dizendo que vem coisa nova por ai.

Elenilson – Existe alguma possibilidade de você lançar um livro de crônicas, ou talvez um de poemas, visto que os seus textos são cheios de críticas e poéticos também?
André Vianco – Existe, sim. Eu escrevo de tudo que me vem à mente, muitas ideias borbulham aqui dentro, pode escapar qualquer coisa a qualquer momento.

Elenilson – Foi difícil chegar até uma editora e publicar seu primeiro livro?
André Vianco – Se eu não tivesse me autopublicado, ido direto numa gráfica para ter minha tiragem, digamos assim, eu nunca teria sido publicado. Então creio que foi difícil, sim. Só depois de eu vender praticamente 1.000 exemplares de Os Sete, sozinho, é que uma editora surgiu (a Novo Século).

Elenilson – Existem muitas cobranças por parte dos seus leitores?
André Vianco – Existe uma cobrança, que eu escreva mais rápido (risos).

Elenilson – Alguns consideram Sementes do Gelo e O Senhor da Chuva seus livros mais emblemáticos, ainda assim muito menos comentados que seus outros lançamentos. Você já elegeu algum dos seus livros como preferido?
André Vianco – Ah, os leitores comentam vários livros, além do clássico Os Sete existe uma legião de fãs para Bento e O Senhor da Chuva. Não sei dizer se tenho um favorito, cada livro é um filhote, parece besteira, mas é a mais pura verdade. O que mais tenho vontade é de reeditar os primeiros livros, mexer aqui e ali, deixar o André mais maduro, melhorar o que o André apaixonado fez lá atrás. Mas paro e penso… talvez os livros tenham que continuar assim, um retrato do escritor que eu era naquela época, e acabo não mexendo.

Elenilson – Os hematófagos do livro Os Sete são bem interessantes. Como foi o processo de criação?
André Vianco – Foi um bocado simples, eu me peguei pensando em vampiros que teriam poderes, além da imortalidade, para enfrentar seus caçadores e refletindo como eles teriam recebido esses poderes fui montando a história.

Elenilson – A crítica vive dizendo que você dá características de seres que, por si só, imortalizados pelo criador de Drácula, já são MUITO clichês. Isso te incomoda?
André Vianco – Nem um pouco. Eu escrevo para me divertir, escrevo para mim e meus leitores, e venho sendo bem sucedido nisso.

Elenilson – Eu soube que você já foi sondado para roteirizar uma de suas obras. Isso procede? Adoraria conferir o Selton Melo ou o Jhe Oliveira interpretando uma das suas personagens.
André Vianco – Sou sondado quase toda semana (risos), verdade. De concreto existe um roteiro meu entrando em pré-produção, mas de uma ideia original.

Elenilson – Eu adoro o filme Entrevista com o Vampiro e não consigo deixar de associar este filme com os seus livros. Mas certas coisas, como o avanço de vampiros bombados, que só temem a luz do sol, soam estranhas. Você procurou dissecar este tema já muito batido ou apenas apimentar a questão?
André Vianco – O que faço nas minhas obras, quando lanço mão de mitos tão ancestrais e arraigado em diversas culturas, como o do vampiro, é também lançar um novo olhar sobre a criatura, inventar, ludibriar e, assim, surpreendo o meu leitor. Fiz isso também com nosso folclore em O vampiro-rei e O turno da noite, onde usei a figuras como os sacis, boitatás e curupiras, todos com uma nova roupa, com uma nova abordagem e ainda assim ligados ao mito tradicional.

Elenilson – As cenas cinematográficas nos seus livros são de tirar o fôlego. Isso é proposital para fazer com quem seus livros cheguem às telas ou você não acha que o cinema nacional ainda capenga das pernas?
André Vianco – As cenas cinematográficas fazem parte do meu estilo, dado muito a ação, a imersão sensorial do leitor. Acredito muito no cinema nacional, o que pouca gente sabe é que o Brasil exporta muitos técnicos de efeitos visuais, estou certo que já existem muitas produtoras de efeitos visuais capazes de transportar com qualidade minha obra do papel para a telona, a hora certa chegará em breve.

Elenilson – Lendo com muito cuidado as suas entrevistas e seus livros pode-se perceber que você é do tipo que vive inovando em detalhes, quebrando regras, que se policia para não fincar seus livros em padrões da mesmice que impregna a nossa literatura: a previsibilidade das estantes nas livrarias. Isso tem tirado oportunidades?
André Vianco – Acho que o autor brasileiro, na grande maioria, ousa pouco, tem medo do ridículo e se leva sua obra a sério demais, deixando pouco espaço para experimentar e surpreender o leitor, daí, sim, vejo que perdem a oportunidade de escrever algo interessante, construindo pilhas e pilhas de mais do mesmo.

Elenilson – Existe algum ideal de escrita que você persiga?
André Vianco – O que me proponho é sempre escrever com prazer, com tesão, estar apaixonado pela história. A partir disso, tudo pode acontecer no meu texto que no final terá a minha verdade impressa ali. Meu ideal é sempre ter o que contar nos meus livros, por mais absurda que as histórias sejam.

Elenilson – Existe algum livro que você gostaria de ter escrito?
André Vianco – Existe um roteiro que eu queria ter escrito: Os Outros.

Elenilson – Recentemente tive todos os meus blogs excluídos do Blogger/Google sem nenhuma explicação. O que você acha dessa ditadura camuflada na internet?
André Vianco – Ela não é tão camuflada assim, se você ler a letras pequenas dos contratos ela está lá. Somos vigiados 24 horas por dia na internet. Acostume-se, proteja-se ou fique offline.

Elenilson – Como foi a sua participação na Bienal do Rio de Janeiro? Os números de livros vendidos, os leitores, a repercussão na mídia, os dados são promissores?
André Vianco – Minha participação é sempre calorosa na Bienal do Rio e de SP. O público aparece, a gente conversa nem que seja um pouquinho, as filas são grandes. Sobre os números, os livros sempre vendem muito bem nas bienais, eu sempre me preocupo com a capa dos livros, dizem que livro não se vende pela capa, mas vende-se sim. Busco sempre pontos de partidas intrigantes em minhas tramas e levo o leitor por toda aventura. Viver de literatura é promissor, é difícil e é preciso ter muita disciplina, mas é possível.

Elenilson – E com relação a outros autores? O que anda lendo?
André Vianco – Leio um bocado de coisas, estou lendo agora A Livraria 24hs. do Mr Penumbra, de Robin Sloan, bem suave e divertido, gosto de textos despretensiosos. Também estou lendo Os Doze, de Justin Cronin, esse é mais complexo, e até meio confuso, mas também estou gostando.

Elenilson – Já está pensando em algum tema para explorar no próximo trabalho?
André Vianco – Vários. Ideias nunca me faltam. O que mais me é caro é o tempo.

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