Escritor fala sobre seu novo livro, literatura infantojuvenil e sobre a formação de leitores no Brasil

Mais de 20 anos de carreira, diversos títulos publicados e dezenas de milhares de exemplares vendidos. Essa é a história de Luis Eduardo Matta, escritor que deixou a criação de thrillers para adultos para iniciar uma profícua produção na literatura infantojuvenil. O objetivo? Despertar o gosto pela leitura nos jovens brasileiros. Essa trajetória começou em 2007, com o livro Morte no colégio, publicado pela Coleção Vaga-Lume, da Editora Ática. Agora, em 2016, o autor estreia na SESI-SP Editora com O mistério do grêmio, que inaugura a coleção policial infantojuvenil da editora.
O novo livro conta a história de Luciana, uma garota de 16 anos que foi eleita presidente do Grêmio Estudantil da Escola Aurora. Sua primeira conquista foi conseguir que a diretora da escola concordasse em ceder um espaço maior e mais adequado para a sede do grêmio. Feliz com a inauguração oficial da nova sede, Luciana nem se importa com os boatos de que o prédio pode ser mal-assombrado. As atividades na nova sede vão bem, até que acontecimentos estranhos começam a abalar as certezas da garota e de seus amigos.
Confira a entrevista com Luis Eduardo Matta. Ele fala sobre seu novo livro, sua carreira e revela sua opinião a respeito da literatura infantojuvenil e a formação de leitores no Brasil.
H.L.: Como surgiu a ideia de O mistério do grêmio?
Luis Eduardo Matta: Anos atrás, fui convidado por uma editora do Rio para escrever uma história juvenil de terror que tivesse o ambiente escolar como cenário. O livro, ao que parecia, faria parte de uma série com obras com a mesma proposta escritas por diversos autores. Por alguma razão, esse projeto não foi adiante, mas, àquela altura, eu já estava com cerca de um terço do livro pronto e resolvi alterar a fisionomia da trama, substituindo o terror por mistério e transformando-a num thriller. A ideia de centralizar a história num grêmio estudantil partiu das lembranças do grêmio da minha escola, quando eu era adolescente. Na época, uma das nossas reivindicações era uma sede, o que nunca se concretizou.
H.L.: Qual tem sido o retorno do público em relação à obra?
L.E.M.: Sinto que a ficção de mistério costuma agradar aos jovens. E muitos professores veem nessa literatura uma aliada para incentivar a leitura nos seus alunos, no que, aliás, estão corretos.
H.L.: Já tivemos grandes escritores especializados em obras de suspense para o público adolescente, como o Marcos Rey, por exemplo. Você inaugurou a série policialesca infantojuvenil na Sesi-SP Editora. Podemos esperar mais livros nesse segmento?
L.E.M.: Sem dúvida. A ficção policial juvenil é hoje a vertente central do meu trabalho como escritor. Além de O mistério do grêmio, estou lançando Passageira 45, que também é o primeiro volume de outra série policial, O vale dos mistérios, da Editora Lê. Há mais de dez anos me dedico à ficção juvenil. Meu primeiro livro para este público foi Morte no colégio, que saiu pela série Vaga-Lume, da Editora Ática, a mesma onde foram publicados os livros do Marcos Rey. E, não por acaso, a obra dele foi uma das que me inspiraram nesse percurso.
H.L.: Fale um pouco da sua carreira literária.
L.E.M.: Já tenho alguns anos de estrada. Publiquei meu primeiro livro em 1993, aos 18 anos, mas considero que só em 2002, quando saiu meu segundo livro Ira implacável, minha carreira ganhou impulso. Foi uma reestreia, digamos assim. Nessa primeira fase, eu escrevia exclusivamente thrillers adultos. Só posteriormente comecei a criar também histórias para jovens, mas me mantendo na linha do mistério e suspense, pela qual sou apaixonado desde menino.
H.L.: Por que escolheu atuar junto ao público infantojuvenil?
L.E.M.: Quando eu estava na escola, a forma como a literatura era ensinada me incomodava um pouco. Eu percebia entre os meus colegas de turma um desinteresse generalizado pela leitura e parecia que as aulas só pioravam isso. Os livros adotados, para eles, eram motivo de suplício, quando, no meu entendimento, o propósito principal de uma aula de literatura deveria ser o inverso: o de despertar o gosto pela leitura nos alunos. Naquela época, é bom frisar, a escola já era, assim como hoje, o local onde a maioria dos jovens era apresentada aos livros, onde havia alguma mediação de leitura, já que as famílias brasileiras são, historicamente, distanciadas dos livros.
Com o passar dos anos, em visitas a algumas escolas, observei que o quadro pouco havia mudado e, no final de 2003, cheguei a publicar um artigo intitulado Formando não-leitores, onde expunha o meu desconforto com essa situação. Eu, ingenuamente, imaginei que esse texto pudesse deflagrar alguma reflexão na sociedade, mas dada a pouca repercussão que ele teve, mudei de estratégia e decidi eu mesmo começar a escrever para adolescentes e a visitar escolas para conversar diretamente com eles sobre o prazer e a importância da leitura.
Foi daí que escrevi, em 2004, Morte no colégio e procurei colocar nele toda a minha experiência como escritor de thrillers para adultos e, também, a minha bem-sucedida formação como leitor, que se deu justamente em sala de aula no começo da minha adolescência com livros juvenis de mistério. Deu muito certo. Morte no colégio e meus livros seguintes vêm sendo cada vez mais adotados em escolas de todo o país e minhas palestras de incentivo à leitura são bastante requisitadas.
Algo que me deixa feliz são os retornos que recebo dos próprios alunos, dizendo que minha literatura e as palestras deram a eles o empurrão de que necessitavam para começar a ler livros espontaneamente e que, graças a isso, tornaram-se leitores e, com a prática regular e prazerosa da leitura, melhoraram, inclusive, o seu rendimento escolar e elevaram o seu nível cultural.
Tenho uma preocupação enorme com a formação de leitores no Brasil. Não vislumbro saída para o país sem que tenhamos uma população maciçamente instruída e sem leitura isso é impossível. Por isso, inclusive, optei em escrever para adolescentes e não para crianças, pois, pela minha experiência, sei que é na adolescência que a leitura se sedimenta ou não nas nossas vidas. Há cada vez mais jovens lendo no Brasil, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Com o meu trabalho, sinto que estou dando alguma contribuição neste sentido.
H.L.: O escaravelho do diabo, um clássico da literatura infantojuvenil, virou filme recentemente. Isso é uma tendência?
L.E.M.: Espero que sim. Acho até que isso já deveria ter acontecido antes, pois há muitos livros nessa linha de autores brasileiros que conquistaram gerações de leitores pelo país. É muito bom ver O escaravelho do diabo indo para as telas. Gostaria de ver, também, adaptações de outros títulos da série Vaga-Lume, como os do Marcos Rey e A ilha perdida, nos próximos anos.
H.L.: Como tem sido trabalhar com a Sesi-SP Editora?
L.E.M.: Tem sido ótimo. A Sesi-SP Editora me acolheu generosamente no seu catálogo e fiquei honrado em inaugurar a coleção policial infantojuvenil da editora, que tem tudo para dar certo. No ano passado tive a alegria de visitar unidades do SESI no estado de São Paulo, dentro do projeto Literatura Viva. As escolas são excelentes e pude atestar que o SESI desenvolve um trabalho sério e dedicado à educação e ao incentivo à leitura. A editora, por tudo que já vi, segue o mesmo caminho e estou feliz e animado por fazer parte desse processo.