Escritores que antecederam o deboísmo, a nova onda da internet

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VOCÊ TEM UM MINUTO PARA OUVIR A PALAVRA DEBOÍSTA DESTES ESCRITORES?

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Após ter sido rejeitado na Academia Brasileira de Letras, Mário Quintana publicou seu poema mais famoso – “Todos estes que aí estão/ Atravancando o meu caminho,/ Eles passarão./ Eu passarinho!” -, algo digno da filosofia do “de boas”. Apesar de atacar outros escritores em entrevistas, William Faulkner também tinha o seu lado deboísta, como na vez em que declarou ser escritor para poder dormir até mais tarde (Neil Gaiman também disse algo parecido). Todo o pessoal da geração Beat tem um pé no movimento, com seu papo transcendental. E tem aqueles mestres da escrita que desconhecemos a personalidade, mas com suas expressões pacifistas, suspeitamos que seriam do “de boas”. Walt Whitman, Machado de Assis e, por que não?, Franz Kafka.

Explico.

O deboísmo começou com a página no Facebook Feminismo Deboísta e depois se espalhou em várias outras páginas, algumas muito populares como a Deboísmo e a Deboismo – Igreja do De Boas, e até mesmo outras que distorceram a ideia da brincadeira inicial. Ainda que o mascote do movimento seja o bicho-preguiça, o que se propõe não é exatamente comodismo, mas sim uma postura mais tranquila em certas discussões na internet. Quem usa a rede no dia a dia topa com um grande número de postagens que discutem os mais estapafúrdios assuntos, de forma nada fundamentada (há quem use a frase “é culpa da Dilma” em qualquer lugar). Sem falar no ódio generalizado. Se você, por exemplo, afirmar que não gosta muito de cachorros, as pessoas reagirão com frases do tipo: “não sei como você pode odiar cachorros”, “por que os come?” ou “eu sei onde você mora, seu filho da puta, vou dar um jeito em você”.

Portanto, o “de boas” é uma resposta a este comportamento. Em outras palavras, o que se sugere é uma postura de diálogo, afinal devemos sim discutir e contestar nossos problemas sociais ou o que aconteceu naquele livro ou seriado que todos estão lendo/assistindo.

Outro problema que o deboismo “combate” são os rótulos ou as generalizações. Homossexuais, feministas, evangélicos, esquerdistas, coxinhas, entre outros, viram xingamentos nas mídias sociais. Se você usa qualquer argumento em uma discussão que se encaixe em um desses segmentos, será taxado e desprezado a partir disso. Que tipo de debate construtivo se pode obter desta forma? É melhor ficar “de boas” e deixar para lá.

Já diria José Saramago: “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”

A ideia é interessante. Podemos acrescer a ela ainda a postura de Henry D. Thoreau, mais conhecido pelo seu ensaio A desobediência civil, que inspirou gente como Liev Tolstói em seu anarquismo cristão e Mahatma Gandhi, com seus protestos não-violentos. Todos esses caras não cruzaram os braços, mas com a consciência que a agressão e a violência não resolvem muita coisa, contribuíram com sua pequena parcela de apoio nas mudanças, acabando por produzir grandes efeitos. Vejam só o que disse Thoreau: “Há novecentos e noventa e nove defensores da virtude para cada homem virtuoso.”

No final das contas, contenha os ânimos e fuja de discussões que não levam a lugar algum. Não há nada de aproveitável em debates em que as pessoas estão mais interessadas em usar seus argumentos para vencer do que em entender o lado do outro. Relaxe e seja “de boas!”

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