É evidente que as emissoras buscam atingir grande audiência com o lançamento de seus programas, mas elas têm apresentado preocupação também com a qualidade do que é produzido.
Há pouco mais de um mês, foi publicado um pequeno texto no jornal Folha de São Paulo falando a respeito da série True Detective, do canal HBO. Mas o que mais chamava a atenção naquela pequena notícia era a primeira frase: “Os autores literários estão cada vez mais apaixonados por televisão.” E, no caso, a matéria se referia aos autores de ficção policial, gênero que vem sendo bastante abordoado em suplementos literários e redes sociais.
Uma evidência de que essa saudável e um tanto quanto improvável aproximação entre livro e TV está na moda foi a estreia na última sexta-feira de O Caçador, transmitida pela Rede Globo, série que copia o formato semanal dos seriados norte-americanos.
Escrita por Marçal Aquino, Fernando Bonassi e José Alvarenga, a trama tem como protagonista André (interpretado por Cauã Reymond), um ex-policial que busca no submundo do crime os responsáveis pela traição que o levou para a cadeia. Além de Reymond, estão Cleo Pires, Alejandro Claveaux, Ailton Graça, Nanda Costa, Jackson Antunes. Quem já leu livros como Cabeça a prêmio e O invasor, notará a qualidade do roteiro de Marçal Aquino, que, assim como nos romances, explora toda a complexidade de seus personagens, embalado também por uma narrativa rápida e envolvente.
É evidente que as emissoras buscam atingir grande audiência com o lançamento de seus programas, mas elas têm apresentado preocupação também com a qualidade do que é produzido. Pelo menos é o que relatou Maurício Stycer em sua coluna deste domingo, na Folha de São Paulo. O cronista conta que o diretor-geral da emissora carioca, Carlos Henrique Schroder, afirmou em recente entrevista que a prioridade agora não é mais as metas de audiência, mas sim o produto apresentado. Segundo ele, a audiência virá naturalmente.
Essa atitude poderia atrair cada vez mais escritores para as produções televisivas, aproximando, no sentido contrário, telespectadores que não possuem o hábito da leitura para os livros impressos ou em formato digital. Capitu, Agosto e Hoje é dia de Maria são exemplos de produções brasileiras vindas da literatura que obtiveram grande sucesso. E, ao que parece, escritores da nova geração, como Raphael Montes, possuem grande interesse em verem seus escritos transformados em imagens que apresentem boas fotografia e interpretação dos atores que incorporarem suas personagens.
Em entrevista ao programa Provocações, da TV Cultura, o escritor e quadrinhista Lourenço Mutarelli disse que a televisão brasileira nivela muito por baixo a capacidade intelectual de seu telespectador. Uma parceria entre livro e TV certamente apagaria essa triste constatação.