Conheça a Flipobre, uma iniciativa dos escritores brasileiros fora dos grandes eventos literários.
Confesse: quando se fala em evento literário, algumas das primeiras imagens são os autores e autoras em suas confortáveis cadeiras, acompanhados por um mediador a lhe disparar perguntas sobre a obra, a pessoa e afins, perante a um público de mudez cronometrada, ouvindo atentamente cada palavra do escritor. Este é posto em frente ao público, e resta a ele encarar uma fila de gente o pentelhando após a palestra, atrás de uma foto para o Facebook ou Instagram, um autógrafo, um elogio sincero (existe) e camaradagens parentes, pois ele é a estrela, “o” cara, cercado dos prêmios mais importantes, pessoa reconhecida pela crítica especializada.
Mas, na boa, o cara bajulado pela imprensa não é o único escritor decente deste nosso Brasil, tampouco o único premiado. Há muita gente tão competente quanto ele que pode ter algo interessante para contar. Na criação por novos espaços para o diálogo entre escritores e público (você e eu!), foi criada a Flipobre. Sim, você leu certo, é Flipobre.
Nome e iniciativa brasileiríssimos de Diego Moraes e Roberto Menezes, a ideia é dar espaço a escritores nem sempre presentes no ‘grande circuito literário’. É para fortalecer a literatura, nas palavras deles, evitando os vícios do nosso (sempre em formação) mercado literário; e a ideia teve apoio de gente de todo canto e presente em vários meios literários, desde projetos como 2 Mil Toques e Mamíferos a autores inseridos no “meio”, como Carlos Henrique Schroeder.
O que os organizadores podem nos dizer após a primeira edição?
O Homo Literatus conversou com Diego Moraes e Roberto Menezes.
Homo Literatus – Quais os próximos passos da Flipobre, considerando seu potencial de alcance?
Diego Moraes: Expandir. Conversar com autores da América Latina, Portugal e Moçambique. Criar mesas redondas de entrevistas.
Roberto Menezes: Ainda estamos conversando sobre isso. Mas uma coisa certa que vamos fazer é uma série de entrevistas, onde todos os membros do Hangout conversam com um escritor convidado.
HL – Em uma das mesas comentou-se da nova geração de leitores, com gostos diferentes de leitura. Quais medidas os autores e produtores de conteúdo sobre literatura podem tomar para conhecer e se aproximar do público?
DM: Usar todas as plataformas possíveis na internet.
RM: As medidas já estão sendo tomadas, com escritores divulgando a sua obra em rede sociais, com escritores indo a escolas conversar com novos leitores. Só que ainda falta espaço pra isso se intensificar e o principal, o poder público precisa ajudar mais nesse processo também, acompanhando esses novos nomes e não só aqueles apresentados pelas grandes editoras.
HL – Uma interpretação possível do nascimento da Flipobre é a constante chamada a um círculo dos mesmos autores para os grandes eventos, em detrimento de autores considerados menores em termos de alcance comercial ou de premiação em nosso mercado editorial. Como a Flipobre pode influenciar nisso?
DM: Conscientizar divulgando bons autores publicados por editoras pequenas, mas não queremos fazer marketing encaminhando autores para grandes festivais. Não tenho interesse em participar de eventos do tipo.
RM: A Flipobre veio com a intenção de somar ao abrir uma nova porta pra escritores sem acesso às já existentes. Não vamos ficar rodeando o que já existe, temos que criar outras vias, nem tudo é o mercado editorial, escritores podem ser lidos sem passar pelo crivo das grandes editoras.
HL – Além de questões diretamente relacionadas ao mercado editorial, como a necessidade de uma editora, foram abordados temas como machismo e estética. Por que esses temas e quais outros a organização pretende debater?
DM: Os participantes da Flipobre escolhem os temas através de votação.
RM: A Flipobre pretende abordar muitos temas, como a religião, experiências em sala de aula, tradução, edição. Muita coisa ficou de fora na primeira edição, a gente espera que na próxima seja possível colocar mais mesas redondas, porque tem muita gente querendo ser ouvida.