Em Biofobia, Nazarian constrói um ótimo de thriller aberto a múltiplas interpretações
Menos fragmentado que seus romances anteriores, sobretudo A morte sem nome (2004), Santiago Nazarian lançou em 2014 um novo romance que leva como título Biofobia. Embora mais linear que os romances que o precederam, esse último não deixa de ser inquietante. Aqui não mais pela estrutura e pelo mergulho em certa poeticidade, mas pelo ambiente caliginoso criado pelo seu autor.
André, o protagonista da história, é ex-cantor de sucesso de meia-idade ainda à procura do retorno aos tempos de fama e glória. Ele ainda acredita no seu potencial, no seu talento, que a arte vai salvá-lo da vida medíocre e comezinha. Trabalhar para chegar à fama e sujeitar-se a trabalhos menores não parece ser do seu feitio, afinal a arte e a fama são consequências de sua genialidade.
Sua mãe, escritora vencedora de prêmios importantes, acaba de falecer. Ou melhor: suicidou-se e deixou a casa de campo na qual vivera reclusa os últimos dez anos para que os filhos e os amigos dividam os pertences e coloquem a propriedade à venda. André, a contragosto, é inserido nesse meio onde a realidade mais dura parece, para ele, apenas uma ficção de mau gosto.
Completamente avesso a campo, mato, natureza, é obrigado a conviver com essa paisagem completamente ameaçadora para ele. André só está ali para realizar o último desejo estapafúrdio da mãe que é o de dividir seus pertences. Se fosse por ele estaria bem longe dali, tentando levar para a cama alguma “gatinha” depois de usar alguma droga sintética – maconha jamais.
Algumas pessoas aparecem para a partilha: a irmã, a empregada, um casal de amigos, a ex-namorada. Cada um escolhe seus pertences e passa algumas horas com o protagonista. Não parece inicialmente um romance angustiante e inquietante. Mas a história aparentemente pacata se transforma em um thriller vertiginoso. Uma história de uma natureza perigosa que ora parece ter saído da cabeça de André, ora parece ser resultado de um uso excessivo de drogas, mas que em vários momentos parece tão real a ponto de incomodar o leitor.
Há lógica na fobia por essa natureza ou é a apenas uma ilógica fobia da vida que há dentro de si? A resposta pode ser imaginada, nunca uma verdade absoluta. As facetas do protagonista emergem e imergem no oceano das páginas, mudam de lado ao sabor do vento. A descoberta de fatos passados é o mesmo que o enterrar o presente e vice-versa? São essas perguntas que o livro nos deixa ao longo das belas linhas traçadas por Nazarian. Entre a fobia e a lógica, o caos!