Fones e livros

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Lourenço Mutarelli diz, num vídeo da livraria Saraiva, que não consegue escrever ouvindo música. Dessas preocupações sem sentido, a que mais me enche o saco é o fato de querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo. A vida é muito curta pra consumir todos os livros, filmes e bandas que surgem.

Estou tentando fazer o caminho inverso de Mutarelli, com receio de descobrir que, assim como ele, não posso fazer duas coisas ao mesmo tempo.

Há alguns dias, tenho misturado música e leitura. Gosto muito do Carnaval por causa da possibilidade dos cinco dias de folga. Até curto ir à praia, mas o sol e o mar em excesso não costumam me fazer bem. Gosto muito de cerveja. Gosto muito de cerveja. Realmente gosto de cerveja.

Fui a São Sebastião, litoral norte de São Paulo, no último feriado prolongado. Levei pra areia o Bufo & Spallanzani de Rubem Fonseca, uma playlist caprichada, recheada de blues e stoner rock no Spotify do celular e mantive a bolsa térmica forrada de Heinekens por perto. Selecionei o álbum Disraeli Gears, do Cream, para começar as primeiras páginas.

Em Blue Condition, quinta música da bolacha virtual, percebi que os riffs primordiais de Eric Clapton, somados às desventuras policiais do ghost-writer Gustavo Flávio, produziam uma baita sinergia. Eu balançava a cabeça e batia o pé na areia enquanto lia sobre venenos liberados pelo espécime Bufo marina, um sapo suicida extremamente apegado às fêmeas de sua linhagem. Terminei o livro ao som potente de Workhorse, do Mastodon. Foi um excelente feriado.

Voltei pra casa pensando em aplicar essa alquimia de feriado às leituras obrigatórias. Vou começar o clássico calhamaço Crônica da casa assassinada, do Lúcio Cardoso. Para acompanhar, um outro clássico: Technical Ecstasy, do Sabbath. Será que dá?

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