Talvez o bordão mais famoso da literatura seja o “Ser ou não ser, eis a questão”, contido na primeira cena do terceiro ato da peça Hamlet. Muitos viram esta cena na televisão, seja em filmes, desenhos, seriados, nos quais o ator representava esta cena com um crânio na mão. Apesar de haver na obra Hamlet uma passagem em que o personagem principal, de mesmo nome, fala com um crânio recém-desenterrado, tal passagem não é a SER OU NÃO SER…
Enfim. Hamlet é uma peça complexa, assim como todas as peças de Shakespeare. Profundas divagações sobre os sentimentos humanos, temas que nunca se tornam ultrapassados, como o amor, inveja, loucura, guerra, traições.
A peça possui leves críticas à sociedade da época, demonstradas pelo tom sarcástico de Hamlet, o que torna o livro um pouco ácido, além de trágico.
A história se passa na Dinamarca, norte da Europa, durante o século XII. Hamlet, o personagem principal, é herdeiro do trono, jovem e descobrindo o mundo, confuso, repleto de dúvidas e angústias. Seu pai, o rei anterior da Dinamarca, está morto recentemente. Hamlet sofre sua perda. E o sofrimento torna-se maior quando sua mãe, a rainha viúva Gertrudes, casa-se com seu tio, Cláudio.
Logo no início da peça, é dito que um boato tomou conta do castelo: uma certa hora da madrugada de todas as noites, o velho rei aparece, na forma de fantasma. Hamlet decide verificar se o fato é verídico, e encontra-se com o fantasma de seu pai, que lhe conta que foi assassinado por seu irmão, tendo este o envenenado enquanto dormia. O fantasma desaparece, rogando para que Hamlet lhe faça vingança.
O choque do assassinato toma conta de si. Hamlet sente nojo da humanidade, e nada mais lhe parece importante do que vingar a morte de seu pai. Finge-se de louco para tramar uma forma de assassinar seu tio. Durante a peça, pensa em suicídio, por não aguentar mais aturar a humanidade cheia de sofrimento e desilusões. E é aí que entra a famosa frase “Ser ou não ser, eis a questão”. Hamlet quer dizer que “sendo”, pode continuar a viver a vida que conhece: cheia de dores, mágoas, sofrimento; porém, “não sendo”, ou seja, com o suicídio, pode se livrar de todo o mal e entrar no sono eterno que é a morte.
Hamlet faz jus a tudo que lhe é comentado. É uma peça sombria, onde quase todos os personagens morrem ao final. Uma verdadeira tragédia, quase como um Tarantino à la 1.500. Pode ser interpretada de várias formas, de acordo com o entendimento de cada leitor, visto que a obra deixa esta margem. Além do “ser ou não ser”, outras frases célebres pertencem ao texto de Hamlet, como por exemplo:
“Eu podia viver confinado dentro de uma casca de noz e ainda assim me sentir o rei do espaço infinito”.
“Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha vossa vã filosofia.”
“Duvida que as estrelas são chama, duvida do sol e da verdade, mas não duvida deste que vos ama.”
“O resto é silêncio.”
“Nada é bom ou mau, exceto pela força de nosso pensamento.”
Hamlet já foi representado, filmado, desenhado… É um dos personagens mais explorados das mídias, por ser um ícone de angústia, sofrimento e questionamento. Tudo o que ele sente no decorrer da peça é muito humano, próximo do questionamento de qualquer ser humano, embora tenha sido escrito há mais de quatrocentos anos!
Então, eu recomendo: Hamlet é para se ler, reler e ler mais uma vez!