‘Nós’, o livro soviético de Ievguêni Zamiátin que pode ter influenciado as mais famosas distopias que conhecemos

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‘Nós’, o livro soviético de Ievguêni Zamiátin que pode ter influenciado as mais famosas distopias que conhecemos
Escrito no auge da URSS stalinista pelo russo Ievguêni Zamiátin, o romance “Nós” apresentava um mundo distópico que acabou influenciando outros grandes escritores. Gente como George Orwell, Aldous Huxley, Ray Bradbury, Anthony Burges, entre outros.

Ievguêni ZamiátinA sociedade é uma junção de números determinados por letras e algarismos. O meio ambiente é um aglomerado de residências de vidro, totalmente transparentes. Os alimentos são feitos á base de petróleo e derivados. E o Benfeitor protege, profetiza e é um verdadeiro pai para todos os servidores do Estado Único. Essa descrição refere-se à atmosfera que cerca a história do romance Nós escrito no auge da URSS stalinista pelo russo Ievguêni Zamiátin.

Nessa obra, o autor propõe uma reflexão acerca dos entraves para a construção de uma sociedade democrática num país indeterminado. Segundo ele, “não há revolução final, todas as revoluções são infinitas”, nos fazendo pensar que o livro metaforiza a sociedade soviética daquele tempo (e as de todos os tempos), ao mesmo tempo que a critica de maneira voraz, pois ela se dizia estar sobre a aura da ‘revolução’, fato que não se confirmou.

 

Os personagens de Ievguêni Zamiátin

A construção dos personagens se deu de forma sem igual. Zamiátin conseguiu nos dizer que somos junções de letras e números ao dizer que os indivíduos que moram na área do Estado Único possuem nome sob essas regras.

Por exemplo, o nosso protagonista se chama D-503, é um renomado engenheiro e construtor da “Integral”, uma máquina distópica que possui a capacidade de viajar pelo espaço num curto espaço de tempo e é um verdadeiro símbolo da atmosfera futurística que se faz presente na obra. Porém, apesar de D-503 ser um número, ele acaba se apaixonando por outro número que o faz refletir, perceber-se como “além-número” e até se conhecer: seu nome é I-330.

Num dos momentos da história, ela o questiona sobre sua inércia diante da realidade imposta pelo Estado, e ele é indagado se existe ou não um número infinito. Como ele não consegue responder, ela o deixa ciente sobre o fato de as revoluções verdadeiras serem infinitas, anunciando que não se pode determinar as coisas apenas pelo limite de nossa mente.

 

1984Admirável Mundo Novo, Farenheit 451 e outras distopias que Nós influenciou

Esse romance serviu de base para muitos outros que vieram posteriormente. George Orwell situou Winston numa realidade não tão amena sob a tutela do Grande Irmão no seu incomparável 1984 que se apresenta como altamente influenciado pelas construções de Zamiátin. Adiante, o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, é similar ao romance russo em vários aspectos, divergindo apenas no que se trata de consciência política, uma vez que em “Nós”, D-503 chega a nadar contra a maré do Benfeitor, mas acaba retornando à beira da praia no final, ao passo que no de Huxley, não se pode dizer que acontece a mesma coisa.

Várias outras distopias também foram influenciadas pelo romance aqui resenhado: Farenheit 451 de Ray Bradbury, Laranja Mecânica de Anthony Burges também são baseados na distopia de Zamiátin, fato que nos permite compreender a grandiosidade dessa obra para a história.

 

Considerações finais sobre o livro de Ievguêni Zamiátin

Por fim, o livro em questão é ácido e possui críticas severas ao modo como nos relacionamos e como o governo e a sociedade como um todo ‘manda’ em todos nós, às vezes até de forma inconsciente.

O autor nos mostra alguns traços de primitivismo quando põe D-503 em convivência com os selvagens que vivem além do Muro Verde, apresentando a hipótese de que todos nós possuímos um lado primitivo e que ele se anuncia quando menos esperamos, uma vez que evoluímos pela seleção natural, mas ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

Desse modo, o romance Nós é um verdadeiro manifesto a todo e qualquer tipo de governo que relativize a liberdade de seus cidadãos e que os transforme em máquinas, os fazendo obedecer sem reclamar e a cada vez mais tornarem-se mecanizados e inertes. Ele espera que Nós não sejamos assim…

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