Eu gostaria que Homer Simpson fosse conselheiro literário
Eu gostaria que Homer Simpson fosse conselheiro literário. Não um escritor em si porque isso poderia ficar para sua filha Lisa, cérebro da família Simpson, o lado culto e talvez pé no chão do povo – ela poderia não apenas ser uma escritora de renome como também ensinar a cuidar da carreira e todo esse papo mais sério. Criar ficção é dar adeus à normalidade, e isso Homer sabe como ninguém.
Ele seria um agente de peso. Nada de romantizações da prática de escrever, citações e colagens preguiçosas da internet, receitas fáceis; são as rosquinhas e as cervejas que movem Homer, além de qualquer comida. Tá permitido fazer gordice literária, mas o lance do Homer é a não literária mesmo, essa sim uma receita confiável.
Sua extensa experiência de vida serviria de bagagem, além do incentivo à comida. Ele foi de tudo ainda que por um dia, o melhor exemplo sem cara de exemplo de como o que fazemos por uns trocados pode nos ajudar a escrever. Em paralelo a sua carreira na usina nuclear, Homer inventou o martelo a pilha, foi prefeito de Springfield, astronauta, teve uma banda, vendeu carros e até exerceu crítica culinária.
Esta atividade aparece no episódio Adivinhe quem vem para criticar, em que Homer consegue uma vaguinha de crítico culinário no jornal da cidade. É a melhor aula possível de (falta de) senso crítico, pois Homer está mais preocupado em comer do que avaliar se a comida dos restaurantes realmente é boa. E também de redação, como na cena em que o editor o questiona sobre um texto, em que o nosso simpático escreveu que a “salada tem gosto de latido e as batatas são muito grrrrr, parece até que foi escrito por um cachorro”, ao que ele responde que um cachorro não bate à máquina – infelizmente. O Homer deu uma de malandro um bom tempo nesse episódio e jogou as letras nas costas da Lisa, mas quando sobrou pra ele a situação mudou muito, e ele teve que se virar – ainda que de um jeito dele.
Imagino Homer Simpson sendo entrevistado hoje. Se o pedissem conselhos sobre a escrita ou métodos para orientar novos redatores, diria “existem três jeitos de fazer as coisas: o jeito certo, o errado e o meu jeito”. Se o entrevistador o provocasse dizendo que o jeito dele é errado, ele se defenderia dizendo que seu jeito é o errado, mas é mais rápido que o normal. Prova que além de versátil, Homer Simpson é um homem veloz e ligado em nossa época, ciente de que tudo é pra ontem e temos cada vez mais informações para absorver. Não que ele se incomode com isso, vai ser apenas mais um petisco pra acompanhar as rosquinhas.