Escritores e suas primeiras leituras: o que os despertou para ler?

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A formação de um leitor pode começar a qualquer momento: em uma conversa no dia-a-dia, por uma indicação de um amigo, uma história bem contada durante uma aula na escola, uma apresentação de teatro baseada em um livro, a prática passada dos pais aos filhos. E onde ficam as leituras feitas durante a infância neste processo?

Para o dia das crianças, o Homo Literatus conversou com alguns escritores sobre as leituras durante a infância. Duas perguntas foram feitas: Qual foi o livro que mais te marcou quando você era criança? E como foi essa experiência? Eles contam a você como foram as primeiras viagens por meio da leitura na infância.

Luísa Geisler

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Tive alguns livros marcantes quando era pequena, como as séries Harry Potter, Desventuras em Série e (!) Diário de Princesa. Mas talvez o livro que mais tenha me marcado seja o Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adam. O livro me causou uma impressão incrível, tanto pela história, mas mais ainda pelo humor. Talvez tenha sido o primeiro livro a me fazer rir alto, e me lembro de pensar algo como “As pessoas podem mesmo escrever assim?”. Até hoje sou apaixonada pelos memes e piadas internas do livro, me lembro de não entrar em pânico e, claro, celebro Towel Day.

Rafael Gallo

Cultura

É engraçado, porque eu não fui um grande leitor precoce. Somente na adolescência a literatura começou de fato a me comover. Na infância eu era bastante ligado a histórias, personagens e atividades criativas, mas me fascinava muito mais o aspecto visual das coisas (eu gostava de desenhar também nessa época). Então quando tento me lembrar dos livros que mais me marcaram na infância me vêm mais as imagens deles, seja no aspecto das ilustrações propriamente ditas ou das figuras criadas em conjunto com a linguagem. Eu adorava, por exemplo, o Bichos, bicho! (tive que procurar no Google para me lembrar do título), com os desenhos do Ziraldo para as frases que caracterizavam certos animais, escritas pela Ciça. Lembro até hoje de uma página em particular, na qual uma vaca muita magra está morrendo de sede e fome, e há um urubu muito grande ao lado dela, que dizia estar apenas ‘urubusservando’. Ainda hoje rio dessa expressão.

Luís Henrique Pellanda

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Quase não li literatura infantil. Não fui leitor de Monteiro Lobato, com quem só cruzei nos livros didáticos. Quando criança, lá pelos dez anos, eu lia cronistas como o Verissimo e o Stanislaw Ponte Preta, mas um autor infantojuvenil, em especial, me marcou nessa mesma época. É um cara que até hoje gosto de folhear, e nas mesmas edições em que o conheci, no final dos anos 70: João Carlos Marinho, autor de O gênio do crime e O caneco de prata. Uma mistura de aventura, humor, nonsense, surrealismo, psicanálise e zoeira que me deixou literalmente maluco.

Marcos Peres

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Cito um gibi, pela importância que ele teve em minha trajetória (de leitor e escritor). O Pêndulo de Ekou tratava de uma um aventura do Pato Donald e do Tio Patinhas. Era um gibi que parodiava O Pêndulo de Foucault, do Umberto Eco, uma aventura que me deixou maravilhado em minha infância. Anos mais tarde, descobri o Pêndulo original, que revolucionou minha maneira de encarar a literatura e, dentre muitas outras coisas positivas, me apresentou ao Jorge Luis Borges, constantemente citado pelo Umberto Eco. Borges, por sua vez, tornou-se uma constante em minha vida e, dele, nasceu a ideia de escrever O Evangelho segundo Hitler. No topo desta cadeia, então, há o Tio Patinhas grasnando com sua voz rouquenha: “leia menino. Leia que isso mudará sua vida”. Eu acreditei no Tio Patinhas. E, de fato, a literatura mudou minha vida.

 

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