Intervalo: 80 = Oi… Tenta aí!

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Bem, dando continuidade à saga… Chegamos aos 80!

Seu Deméthrio resolveu comemorar os seus 80 anos. Todos os filhos, netos e bisnetos aprovaram. Uma festinha inocente ao som de bolero. Não, o neto Douglas achava que bolero era coisa de museu e o seu avô ainda dava pra alguma coisa… Dizia o neto. Foi decidido então, que o neto iria cuidar do evento.

Na semana anterior à festa, Seu Deméthrio resolveu perguntar ao neto:

– Douglas, você conseguiu convidar todos os meus amigos?

– Que amigos, vô?

– Ora, os meus amigos das peladas…

– Não me diga vô, o senhor frequentava orgias quando novo?

– Olha o respeito, menino! Pelada é jogo de futebol!

– Ah… Sabia…

– Sabia o quê?

– Nada, nada. Quem o senhor quem convidar?

– Como quem? Todos os meus amigos!

– Mas não cabem todos os seus amigos aqui, papai! – resolveu intervir o filho Silvio.

– Claro que cabe, pai. – respondeu o neto de Seu Deméthrio – Com a idade do vovô…

– O que tem a minha idade?

– Ah… Vô… Será que tem muita gente viva ainda?

Seu Deméthrio ficou pensativo. Resolveu pegar a lista dos convidados das mãos do neto e começou a ler:

– Carlinha, Flavinha, Rubão, Mc Da Hora, Mc de Agora, mulher Melado, mulher Salgado, mulher Docinho… Mas que lista é essa? Quem são essas pessoas?

– Uns camaradas aí, vô!

– Que camaradas? Não conheço ninguém!

– Mas eu conheço vô! “Podeixar”, eu controlo tudo!

– Quero os meus amigos presentes!

– Mas vô…

– Quero os meus amigos ou não quero mais festa!

O filho Silvio teve que intervir novamente:

– Faz logo o que o seu vô quer, Douglas!

– Mas vai ser uma festa de gente velha! Que graça tem um monte de velho sentado nos bancos? E com bolero!

Seu Deméthrio baixou os olhos… Aquelas palavras foram duras. Gente velha! Silvio, o filho, sentindo pena do pai, resolveu ajudar:

– Vamos fazer assim, eu vou ligar para todos os seus amigos papai e o Douglas irá diminuir a listinha de convidados DELE!

E foi um tal de procurar a agenda do vovô pra cá e pra lá! Até que acharam um bloquinho todo puído num baú que estava no quarto do vovô. E começaram as ligações:

– Tenta aí: Godofredo! – dizia o vovô Deméthrio.

Após alguns instantes de diálogo com a criatura que estava do outro lado da linha e veio o retorno:

– Esse morreu em 2007. Quem mais, papai?

– Oi… Tenta aí: Gertrudes.

(…)

– Essa morreu em 2003. O próximo?

– Oi… Tenta aí: Fernão.

(…)

– Esse morreu em 2011. O seguinte da lista.

– Oi… Tenta aí: Florbela. Essa sempre foi parceira! – comentou o avô esperançoso.

(…)

– Essa faleceu em 2000.

– Acabou a parceria – comentou o neto.

– Cala a boca, menino! – repreendeu o pai. – Diz aí, pai, qual é o próximo da lista?

– Ziraldo, Norberto, Paulo, Darci, Assis, Luís, Adão, Maria, Sueli, Demóstenes…

(…)

– Morreu em…

– Morreu em…

– Morreu em…

– Mais alguém, papai? A lista já acabou.

– Oi… Tenta aí: Apolinário! Amigo de fé! Sempre esteve comigo!

Após alguns instantes, Apolinário (ainda vivo) atende ao telefone e o vovô corre para fazer o convite:

– Apolinário, meu querido companheiro! Que bom falar com você! Sim… Sim… Não… Não… Talvez… Pode ser… Mas eu queria te convidar para a minha festa de 80 anos… Não… Não… Também não… Como? Eu?! Nunca! … De forma alguma… Eu? Jamais! Você pensa que eu sou o quê?! Mas vamos deixar essa conversa descabida pra lá, Apolinário. Eu… Eu… Eu… Quer me deixar falar?! Sabe de uma coisa… Não quero mais que você venha à minha festa de aniversário! E não fale mais comigo! Adeus!

Todos perplexos na sala. O que será que teria acontecido entre os dois? O tal de Apolinário era o único amigo vivo de seu Deméthrio… E agora? Quem viria para a festa? Pai e neto olharam para o avô. Precisavam perguntar:

– E agora, vovô? Quem vem pra sua festa de 80?

– Oi… Tenta aí… Todos os inimigos do Apolinário e pode chamar também todos aqueles Mcs… E todas aquelas mulheres com sabores. Será uma festa de arromba! Apolinário vai ver só…

(…)

O que aconteceu entre Seu Deméthrio e Apolinário?

Agora é a sua vez. Oi… Tenta aí! Deixe a sua opinião aqui no site

Até o nosso próximo Intervalo.

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Cláudia de Villar é professora, escritora e oficineira. Formada em Letras pela FAPA/RS, especialista em Pedagogia Gestora e em Supervisão Escolar. A escritora tem alguns livros já publicados para o público infantojuvenil e adulto. Atua também como colunista de alguns jornais do RS (Jornal de Viamão e Jornal Floresta) e colabora com um texto mensal para o site Artistas Gaúchos. Desde agosto de 2013 é uma das associadas da AGES (Associação Gaúcha de Escritores). Cláudia afirma que é professora por opção profissional e escritora por vocação. Ler, escrever, criar e sonhar faz parte da composição de seu SER.

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