Parte final das férias de julho de Belém.
Belém acordou ao som de buzinas. Estava na cidade grande. Abriu os olhos somente para constatar o que ela já sabia só de ouvir.
– O quê? Aqui?!
– A senhora não queria uma cidade movimentada? – perguntou o motorista um pouco assustado com o tom de voz da professora – Eis a cidade grande!
– Mas essa é a cidade onde eu moro! – exclamou Belém, perplexa com a falta de sorte.
– Ah… Aí eu já não sabia. A senhora não…
– Tá, deixa pra lá. – começou a professora afinal, o motorista não teria como adivinhar – Quanto deu a corrida?
Após pagar ao motorista, Belém desceu do táxi triste e desiludida. Era muito azar para cinco dias esmagadinhos apenas! O que fazer? O que fotografar? Bem, pelo menos ela estava livre daquela família insuportável. E, depois de pensar um pouco, decidiu ir para casa e, quem sabe, aproveitar o restante de quinta para passear no shopping? Poderia fotografar algumas vitrines.
Já no shopping, Belém decidiu que seria mais otimista. Iria fotografar a vida como ela é… E, dessa forma, começou a fotografar as lojas, os cafés, as filas de cinema, as pessoas apressadas entrando em farmácias, em supermercados… Supermercado! Sim, iria ‘se’ dar uma noite especial. Compraria várias guloseimas, um bom vinho e iria aproveitar uma noite aconchegante consigo mesma. Afinal, já era quinta-feira e amanhã seria o seu último dia esmagadinho de férias!
Porém, na fila do supermercado (e que fila!) ela ouviu uma voz conhecida:
– Titia Belém!!! A senhora por aqui! Que mundo pequeno, não?! – era a tal menina da cidadezinha pequena!
Não podia ser. Belém virou-se, vagarosamente, para o lado e viu… Reconheceu… Era uma visão do terror! A família, aquela mesma família ali no supermercado, caminhando pelo corredor. Quanto azar! E eles, contrário da outra vez, fizeram questão de (RE)conhecê-la em meio àquela fila imensa do supermercado:
– Professora Belém! Quanta surpresa! Que alegria! – falou o pai num tom de voz eufórico. E, dizendo isso, foi entrando naquela fila, passando na frente de todos e colocando-se ao lado de Belém. – Quanta honra encontrar uma escritora tão conhecida e especial como a senhora por aqui!
E, com esses elogios fora de sentido, foram ficando ali, a família inteira, furando a fila. Belém nem sabia direito o que dizer (ela não era a profe. doidona?!).
– Olá… Que mundo pequeno, não?! – foi apenas o que conseguiu dizer.
– Pois é…
– Mas vocês não iriam ficar até amanhã lá naquela cidade, aproveitando as férias?
– Ah… Íamos, mas não achamos mais nada de interessante por lá e decidimos encurtar as férias.
O papo terminou por aí. A família foi atendida pelo caixa e foi embora.
Belém ficou sem saber o que pensar. Talvez fosse o momento de tornar-se escritora de verdade e escrever um livro de memórias… Já tinha até o título para o seu primeiro livro: Os dias esmagadinhos de Belém. Melhor não pensar mais nisso. Foi pra casa e fez o seu jantar… Ah… Férias…
A sexta-feira amanheceu chuvosa. Fotos? Fotos de chuva serão legais? Melhor não. Aproveitou para fazer o que queria desde o princípio: ficou abafadinha em sua cama com o edredon. Iria descansar no último dia de férias.
Na segunda-feira, ao entrar na sala de aula qual era a surpresa de Belém?
– Titia Belém!!! Agora eu serei a sua aluna!!! Olha que alegria!
Mundo pequeno… Mundo muito pequeno. Mas que droga de mundo pequeno!!! Dias esmagadinhos… Muito esmagadinho. Que vida é essa, sô!
Como termina essa pequena história de Belém?! Como tinha que ser… Não tinha outra forma para terminar…
Já na maca, toda enrolada numa camisa de força, Belém não pensava, não refletia, só cantava, berrava, sofria:
“(…) Lembrar de que nada de bom,
Você me deu, só machuca alguém
Que não viveu
Vou recomeçar,
Vou tentar viver
Vou tirar você da minha vida
E pra não chorar
Antes de partir
Vou tentar sorrir na despedida (…)”.
Até o nosso próximo Intervalo.