Quem é que dá a palavra final numa casa? O marido: “Sim, amor, já vou indo”.
Fernando Alcântara Gutemberg Pereira Filho sempre soube que as mulheres sempre têm razão. Aprendeu isto com o seu pai quando ainda era um garotinho:
– Pai, posso ir jogar bola lá fora com os amigos?
– Claro, meu filho!
– Mãe, vou lá fora jogar bola, tá?!
– Quem deixou você ir?
– Meu pai.
– Seu pai não manda coisa nenhuma. Quem manda aqui sou eu. Já pro seu quarto estudar!
– Pai, a mãe disse…
– Sua mãe sabe o que faz, meu filho, ela sabe. Obedece ela.
Quando ele ‘virou’ um menininho maior ele percebeu que as coisas, mesmo fora de casa, não mudavam.
– Professora, posso ir ao banheiro?
– A esta hora? Não!
– Mas eu estou apertado.
– Fique quieto, sem conversa. Quem manda aqui sou eu!
Ao tornar-se um rapazinho ele tentou mudar aquela rotina tirana:
– Querida, alcança pra mim uma latinha de cerveja e quando vier já aumenta o som da TV? Vai começar o futebol.
– Querido, cerveja faz mal pra saúde e ‘dá’ barriga. Além disso, amor, hoje você tinha prometido me levar ao cinema.
– Mas é final de campeonato.
– Tudo bem, se você não quer ir, eu vou com a Vânia e o irmão dela.
– Fico pronto em cinco minutos. – vai até a televisão e desliga. – Pra que futebol? Vamos ao cinema.
Depois de casado, pensou que as coisas mudariam.
– Amorzão, que tal irmos passar o final de semana na praia? – pergunta ele, entusiasmado.
– Ah, benzinho. Este final de semana eu marquei de ir visitar a minha tia Suzi que está no hospital. – Você não se importa, não é?
– Hospital? Mas…
– Tudo bem, Fernandinho. Pode ir para a praia com os teus amigos, eu peço pro meu irmão me levar ao hospital.
– Mas teu irmão não estava lá na casa do Sandro (alto, louro, ‘sarado’) terminando um trabalho da faculdade?
– Ah, eles não vão se importar de me levar lá.
Coitada da tia Suzi, pensou Fernandinho.
– Pensando bem, vou com você ao hospital.
Em outra oportunidade ele diz:
– Ana, eu convidei o pessoal lá do escritório para um jantarzinho aqui em casa. Prepare uma comidinha pra nós. – usou de toda a sua masculinidade.
– Hoje?! Mas nós não íamos jantar lá na casa da mamãe?
Desta vez ele foi enérgico. Não mudaria a sua opinião. Afinal, ele era um homem ou uma marionete?
– Hoje, não, querida. Hoje, não.
Após alguns instantes de silêncio a esposa pergunta:
– Quantos ‘amigos’ são, amorzinho?
– Ah, uns doze. – continua com a voz firme. – De forma alguma mudaria de opinião. Era um homem!
– Doze?!?! – repete a esposa preocupada e olha para a pia da cozinha, lembrando-se da louça que teria que lavar depois.
Após alguns minutos de silêncio da esposa ele pensa: “Venci. Até que enfim, eu venci. Meu pai estaria orgulhoso se me visse agora”. Porém, a voz melosa da esposa rompe o silêncio da sala:
– “Benhê”, aquele seu amigo vem também?
– Qual amigo? – pergunta, desconfiado.
– Aquele de óculos, cabelos castanhos, alto, moreno, olhos azuis, voz de veludo? Ele é sempre tão amável comigo.
“Marionete” pega o celular e vai para a varanda. Liga para o pessoal e desmarca o jantar. De repente, bateu uma saudade da sogra.
– ‘Simbora’ pra casa da tua mãe, querida.
– Mas e o jantar com os amigos? Desistiu? – pergunta com voz inocente.
– Você sabe, amor da minha vida, quem é quem aqui em casa.
Até o próximo Intervalo.