Intervalo: Mulheres – Cláudia de Villar

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Quem é que dá a palavra final numa casa? O marido: “Sim, amor, já vou indo”.
Fernando Alcântara Gutemberg Pereira Filho sempre soube que as mulheres sempre têm razão. Aprendeu isto com o seu pai quando ainda era um garotinho:

– Pai, posso ir jogar bola lá fora com os amigos?

– Claro, meu filho!

– Mãe, vou lá fora jogar bola, tá?!

– Quem deixou você ir?

– Meu pai.

– Seu pai não manda coisa nenhuma. Quem manda aqui sou eu. Já pro seu quarto estudar!

– Pai, a mãe disse…

– Sua mãe sabe o que faz, meu filho, ela sabe. Obedece ela.

Quando ele ‘virou’ um menininho maior ele percebeu que as coisas, mesmo fora de casa, não mudavam.

– Professora, posso ir ao banheiro?

– A esta hora? Não!

– Mas eu estou apertado.

– Fique quieto, sem conversa. Quem manda aqui sou eu!

Ao tornar-se um rapazinho ele tentou mudar aquela rotina tirana:

– Querida, alcança pra mim uma latinha de cerveja e quando vier já aumenta o som da TV? Vai começar o futebol.

– Querido, cerveja faz mal pra saúde e ‘dá’ barriga. Além disso, amor, hoje você tinha prometido me levar ao cinema.

– Mas é final de campeonato.

– Tudo bem, se você não quer ir, eu vou com a Vânia e o irmão dela.

– Fico pronto em cinco minutos. – vai até a televisão e desliga. – Pra que futebol? Vamos ao cinema.

Depois de casado, pensou que as coisas mudariam.

– Amorzão, que tal irmos passar o final de semana na praia? – pergunta ele, entusiasmado.

– Ah, benzinho. Este final de semana eu marquei de ir visitar a minha tia Suzi que está no hospital. – Você não se importa, não é?

– Hospital? Mas…

– Tudo bem, Fernandinho. Pode ir para a praia com os teus amigos, eu peço pro meu irmão me levar ao hospital.

– Mas teu irmão não estava lá na casa do Sandro (alto, louro, ‘sarado’) terminando um trabalho da faculdade?

– Ah, eles não vão se importar de me levar lá.

Coitada da tia Suzi, pensou Fernandinho.

– Pensando bem, vou com você ao hospital.

Em outra oportunidade ele diz:

– Ana, eu convidei o pessoal lá do escritório para um jantarzinho aqui em casa. Prepare uma comidinha pra nós. – usou de toda a sua masculinidade.

– Hoje?! Mas nós não íamos jantar lá na casa da mamãe?

Desta vez ele foi enérgico. Não mudaria a sua opinião. Afinal, ele era um homem ou uma marionete?

– Hoje, não, querida. Hoje, não.

Após alguns instantes de silêncio a esposa pergunta:

– Quantos ‘amigos’ são, amorzinho?

– Ah, uns doze. – continua com a voz firme. – De forma alguma mudaria de opinião. Era um homem!

– Doze?!?! – repete a esposa preocupada e olha para a pia da cozinha, lembrando-se da louça que teria que lavar depois.

Após alguns minutos de silêncio da esposa ele pensa: “Venci. Até que enfim, eu venci. Meu pai estaria orgulhoso se me visse agora”. Porém, a voz melosa da esposa rompe o silêncio da sala:

– “Benhê”, aquele seu amigo vem também?

– Qual amigo? – pergunta, desconfiado.

– Aquele de óculos, cabelos castanhos, alto, moreno, olhos azuis, voz de veludo? Ele é sempre tão amável comigo.

“Marionete” pega o celular e vai para a varanda. Liga para o pessoal e desmarca o jantar. De repente, bateu uma saudade da sogra.

– ‘Simbora’ pra casa da tua mãe, querida.

– Mas e o jantar com os amigos? Desistiu? – pergunta com voz inocente.

– Você sabe, amor da minha vida, quem é quem aqui em casa.

Até o próximo Intervalo.

 

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