Intervalo: Presente de sogra – Cláudia de Villar

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Tem coisa pior que acompanhar a esposa no shopping? Foi esta pergunta que surgiu naquele instante para César. Ele estava tranquilo em seu serviço, faltava apenas 20 minutos para acabar o expediente quando o telefone tocou. Era a sua esposa comunicando (perguntar a opinião do marido, nem pensar!) que eles iriam ao shopping comprar o presente de aniversário para a sua mãe (e ele pensa, pra que ir tão longe se vassouras eram encontradas em qualquer mercadinho da esquina?). Bem, já que não tinha jeito…

O problema era enfrentar todo aquele trânsito naquela hora. Todo mundo saindo, fugindo em disparada para os seus lares e ele ali, parado no trânsito e ainda por cima teria que enfrentar outro congestionamento para ir ao shopping. Claro que a esposa não queria nem saber desse probleminha, afinal, era o aniversário da querida mamãe!

Após enfrentar quase duas horas no trânsito a chegada ao shopping era um alívio naquele instante para César. Mas bem na quarta-feira, dia de futebol, tinha que ir ao shopping naquele dia? Mas quando a sogrinha faria aniversário? Mas a criatura já não havia comemorado o aniversário naquele ano? Ou não? E será que não dava pra comprar noutro dia? Mas ele nem pensou em sugerir esta outra opção para a esposa, afinal… Era a mãezinha dela! Quer comprar briga com a esposa? Fale qualquer coisa sobre a mamãe dela! Briga na certa!

Mas o que estava ruim ficou pior: cadê as vagas no estacionamento? Nenhuma? Será que todo mundo resolveu comprar presente pra sogra naquele dia? Mas com uma população tão grande assim de sogras, como iria ficar a cadeia alimentar? Algum animal iria desaparecer da face da Terra! Enquanto pensava na cobrinha, digo, na sogrinha, ele fazia voltas e mais voltas no bendito estacionamento. Mas que droga! Nenhuma vaguinha e a mulher ao seu lado, olhando-o como se ele fosse o culpado.

– Tá, você não vai estacionar?

– Mas cadê a vaga? Você não vê que está lotado?! Também, a essa hora…

– O que tem a hora? Você é que demorou pra sair daquele escritório. Parece que fez de propósito!

Melhor não dar continuidade pra conversa. Mais umas quatro voltas no estacionamento e nada!

– Mas afinal, qual dia mesmo que a sua mãe está de aniversário?

– Que importa a data, vou comprar hoje mesmo!

– Mas tem que ser algo aqui do shopping? Tem tantas lojinhas lá perto de casa!

– Qual é o teu problema com o presente da mamãe?

– Eu não tenho nada contra com o presente da sua mãe, mas hoje está impossível estacionar!

– Pra você sempre é impossível estacionar! Se fosse pra se encontrar com os seus amigos do escritório tenho certeza que você já teria encontrado um lugar.

– Vamos dar mais uma voltinha aqui. Quem sabe eu estaciono lá fora e você vai ligeirinho na loja e compra.

– Ligeirinho?! Por quê? A minha mãe não merece uma atenção especial? Se fosse a sua mãe tenho certeza que seria diferente.

Melhor não continuar a conversa.

Mais umas três voltas, quinze suspiros, sete olhadelas com o canto do olho (mas aquele olhar de fuzilar qualquer cidadão) e enfim, um espaço foi encontrado.

– Bem, você vai lá que eu te espero aqui.

– Como assim, você não vai descer comigo?

Já estava na hora do jogo. O que ele queria era ficar ali no carro ouvindo a narração futebolística. Mas não. Sabia que se ele ficasse ali seria briga na certa. Desta forma, fez uma cara de amor aos répteis e saiu do carro, acompanhando a esposa. Rumo ao sacrifício!

– O que você pretende comprar pra sua mãe?

Não conseguia imaginar o que a cobrinha iria querer. A vassoura estava bem legal, pensou ele.

Estava seguindo os seus doces pensamentos e nem notou que a esposa só caminhava pelo shopping. Afinal, o que ela iria comprar? Seriam chocolates? Mas répteis têm dentes?! De repente, pararam em frente a um restaurante. Era só o que faltava ser aquele dia o aniversário da megera e ele ter que pagar o jantar naquele lugar caríssimo! Agora era demais! Gastar o seu rico dinheirinho com a bruxa jararaca da sogra! Onde foi que ele colocou as ervinhas daninhas pra misturar no alface da veia?! E ela estava lá, naquela mesa repleta de pessoas, sorrindo pra ele. Me aguarde, me aguarde. Pensou ele indo em direção à mesa.

Qual foi a sua surpresa quando, ao chegar à mesa? Todos os presentes começaram a cantar PARABÉNS PRA VOCÊ.

Pra mim?! Hoje? Sim, era o seu aniversário! Havia esquecido! Era um jantar surpresa! Ali estavam os seus amigos, parentes e colegas de escritório.

– Amor, a mãe que organizou esta surpresa pra você. Gostou?

A cobrinha, digo, a sogrinha que havia organizado tudo aquilo?

Bah, e agora, César, como fica?

Até o nosso próximo Intervalo.

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