Intervalo: Relaxe, é Carnaval – Cláudia de Villar

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Período de Carnaval, época em que as pessoas querem esquecer os problemas, as contas, as dores, os falsos amores, os pudores e ser feliz. Apenas ser feliz.

Ivolino também queria ser feliz. Assim como todas as outras pessoas. Mas com este nome, quem é que poderia ser feliz? Porém, para que nada desse errado em sua vida, Ivolino decidiu abreviar o seu nome. Para todos ele era o Sr. Ivo. Igual ao nome de seu chefe.

Final de tarde de uma sexta-feira, Ivolino está terminando um relatório quando, de repente, vem o chefe até a sua mesa e começa:

– Sr. Ivo. Há muitos anos o senhor trabalha aqui nesta empresa. Sabe que eu nunca tiro férias, nem Natal, nem Ano Novo, nem Páscoa…

Lá vem bomba, pensa Ivolino, NEM CARNAVAL, seria o que viria depois?

– Mas este ano quero mudar. Já estou ficando velho, sabe como é… O corpo já está cansando.

Lá vem uma grande bomba, continua a pensar Ivolino.

– Portanto, decidi fazer uma viagem. Mas o escritório não pode parar!

Lá se vai o meu carnaval, completa a mente de Ivolino. Ele precisava salvar o seu carnaval. O carnaval com a bela secretária. Precisava fazer alguma coisa.

– Mas senhor, a vida é tão breve, para que se preocupar tanto? A saúde em primeiro lugar.

O chefe fica alguns minutos em silêncio. Será que ele havia dito alguma bobagem?

– Pois a minha esposa pensa a mesma coisa.

Perfeito!

– O problema é que eu vi em minha agenda, que a secretária marcou dentista e oftalmologista para mim esta tarde. É apenas uma revisão, mas com estes compromissos, melhor desistir da viagem marcada pela minha esposa e ficar aqui mesmo pela cidade. Ficarei por aqui e não fecharei o escritório.

Não, não! Já havia fechado todo o esquema com a secretária para despachar o chefe para bem longe naquela tarde e começar o seu carnaval mais cedo e a dois!

– Como o senhor não irá viajar? Tem que ir?

– Mas como poderei ir com estas consultas?

Todos os seus planos carnavalescos indo embora por causa daquelas hfgtw (melhor nem traduzir) de consultas.

– Eu vou!

– Como?

– Eu irei em seu lugar. São apenas revisões. O consultório é novo, ninguém conhece o senhor mesmo. Como o seu mais antigo funcionário, eu farei isso pelo senhor!

O chefe, muito agradecido, aprovou a ideia e lá se foi Ivolino, feliz pela brilhante conclusão que deu ao caso. Eram somente revisões e, afinal de contas, para aproveitar o carnaval com aquela bela e wrtgh (melhor também não traduzir) secretária, ele topava tudo. Quando uma mulher daquele porte iria dar bola para um Ivolino daquele? Míope, cardíaco, baixinho e com aqueles dentes?! Era a sua chance! Ivolino só pensava nas horas carnavalescas ao lado daquela aeronave em forma de mulher.

Os consultórios, tanto da dentista quanto do oftalmologista eram no mesmo prédio. Daria tempo para ele ir para casa, tomar um banho e esperar a secretária. Porém, os sonhos doces viraram sonhos salgados no momento em que Ivolino sentou-se na cadeira do oftalmologista.

Ao vê-lo com aqueles óculos o médico foi logo aplicando colírio para dilatar as pupilas, colírio para verificar a pressão ocular. Quem enxerga alguma coisa depois de tanto colírio? Saiu dali tateando. Para piorar a situação o elevador havia pifado e ele teve que subir seis andares até a dentista.

Cárie? Desde quando ele tinha cáries? Pronto, tratamento dentário para o Sr. Ivolino. Algumas obturações para ficar novo em folha. E agora, como aparecer assim na frente da secretária?

Boca mole (muita anestesia), pupilas dilatadas (muito colírio), coração descompassado (muitas escadas). E, como se não bastasse, Ivolino ouviu, não sei de onde, uma voz feminina chamando-o:

– Sr. Ivo! O senhor já estava esquecendo, a sua secretária também marcou para o senhor o exame anual de próstata. Pode me acompanhar, por favor, até a sala do exame?

Wytkghjqçx (de maneira alguma irei traduzir o pensamento de Ivolino neste momento.

Como termina tudo isto? Calma, Ivolino, calma. Relaxe. Afinal, hoje é Carnaval!

Até o nosso próximo Intervalo.

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