Salve o leitor-beta, à deriva e a salvo das nossas neuroses até ser encontrado

“Escrevi um texto aqui mas sei lá, você pode ler e me dizer o que acha?”. Claro, leio, se precisar releio e falo pro(a) autor(a) se pode deixar como está, se pode mudar um trecho, tirar uma vírgulas, trocar algumas frases de lugar, ou banco o carrasco e falo pra fazer outro texto porque o atual não presta. Mesma situação do outro lado: escrevi e gostaria que alguém lesse antes de publicar. Graças a isso escrevi final onde não tinha, joguei ideia fora ou mudei um detalhe, depois o texto estava bom.
A prática da escrita tem dessas, às vezes a gente estranha o próprio texto. Nada como uma leitura antes de considerar que aquilo possa ser lido por mais gente, e aí entra o leitor-beta. Não é um amigo paciente disposto a passar a mão na cabeça, e sim alguém que leia de maneira crítica, avaliando recursos e comentando o que achou de bom ou de ruim nele. Claro que esse bom e ruim que joguei aqui são abstratos e subjetivos ao infinito, dependentes eternos do contexto da escrita, local de publicação, ideia e resultado, às vezes do repertório do autor e do leitor-beta, do humor de cada um (por que não?), das sensações envolvidas nos dois lados. São questões que nós devemos considerar enquanto redatores e nem sempre fáceis de fazer com a nossa própria cria, pois às vezes estamos tão próximos do que escrevemos que nossa visão pode oscilar entre acharmos que fizemos o melhor texto do mundo ou o pior lixo do universo.
Salve o leitor-beta, à deriva e a salvo das nossas neuroses até ser encontrado. Talvez seja um pedido esporádico ou alguém que leia todo texto antes que seja enviado para publicar, essa é outra daquelas características pessoais que cada um precisa descobrir e desenvolver a sua maneira; o fato é que uma leitura pré-versão final pode ajudar e até salvar um texto. Sem saber o leitor-beta age dá uma de um editor, mesmo que não tenha nada para mudar e manda bala nesse texto porque ainda tem prazo, beleza?
Beleza. Texto pronto, relaxa. Ou dá um tempo nesse aí antes de corrigir, vai na cozinha e faz um café, conversa com o cachorro ou com um humano de estimação, pequenos rituais também ajudam a lapidar uma ideia. Nem todos acham necessário submeter a produção a outro olhar antes de passar adiante, pode ser que a pessoa confie nas próprias linhas, ou apenas não se sinta a vontade para escolher um leitor-beta, ambas ações variando muito de cada um, igual a maneira como se busca expressar a ideia da melhor maneira possível. Além de leitores-beta, somos escritores-beta de nós mesmos.