Lima Barreto: um visionário da tragédia brasileira

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Algumas palavras sobre Lima Barreto, um dos precursores da militância negra no Brasil

Lima Barreto | Caricatura de Marcio Malta (Nico)

Mais do que um baluarte da nossa literatura, Lima Barreto foi um dos poucos que soube traduzir e prever com audácia incomum o lado trágico pelo qual a sociedade brasileira iria trilhar no decorrer do incipiente século XX.

Lima Barreto foi um dos precursores da militância negra no Brasil. Seus textos para a imprensa de seu tempo já abordavam temáticas raciais, denunciando os abusos que o negro sofria em sua recém-proclamada abolição.

Desde a infância, Lima Barreto já trazia consigo o espírito do questionamento social. Filho de uma ex-escrava negra com um português, estudou em colégios importantes junto à burguesia da época e logo se tornou o destaque de sua turma, apesar de ter herdado os problemas psicológicos do pai.

Como escritor se mostrou talentoso. Lima Barreto simplesmente escreveu um dos livros mais clássicos e obrigatórios da literatura nacional, Triste fim de Policarpo Quaresma, que se tornou uma leitura seminal para entender um pouco do Brasil republicano.

Recordações do Escrivão Isaías Caminha, obra de estreia de Lima Barreto, não obteria o mesmo êxito de Triste Fim de Policarpo Quaresma, mas traria detalhes curiosos e até mesmo proféticos em sua narrativa, denunciando a genialidade barretiana.

O livro, que contém muito de experiências do próprio Lima Barreto na grande imprensa de seu tempo, conta a história de um jovem negro que sai do interior do Rio de Janeiro e consegue um emprego em um jornal corrupto da capital.

Contudo, antes mesmo do império da família Marinho ter nascido, Barreto profetizaria o nascimento do Jornal O Globo na cidade do Rio de Janeiro, pois este seria o nome do jornal em que se desenrola a trama no qual personagem protagonista trabalha e convive com pseudointelectuais de todos os tipos na redação.

Além do nome de um dos mais influentes jornais brasileiros, a obra inteira retrata a desinformação da imprensa e seu sensacionalismo. Os demais personagens que transitam em meio ao jovem e ingênuo Isaías Caminha são redatores mercenários e corrompidos que nada entendem de assuntos necessários para seu ofício como política, literatura ou artes.

Em Recordações do Escrivão Isaías de Caminha, Lima Barreto narra a trajetória de um jovem que procura manter sua ética a todo custo em um mundo corrompido pelas ideias de sucesso e poder. Um registro necessário para nosso tempo de excessos e corrupção.

A obra de Barreto merece reverência e estudo, um visionário que acertadamente será o homenageado da Feira Literária de Paraty (FLIP) em 2017. Nada mais justo para quem descreveu tão bem a tragédia social brasileira.

 

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