Mesmo que alguém não possa terminar toda a grande literatura, tem-se que começar em algum lugar
Pouco depois de seu quinquagésimo aniversário, Liev Nicolaevitch, conde de Tolstói, ou mais comumente chamado apenas de Liev Tolstói, sucumbiu a uma profunda crise espiritual e decidiu retrair-se com o objetivo de encontrar o sentido da vida. Ele começou tal façanha lendo vorazmente as principais tradições filosóficas e religiosas espalhadas por todo o mundo, descobrindo grandes similaridades na forma como cada linha de pensamento se posicionava contra a verdade do espírito humano.
Ele também foi, como qualquer grande escritor, um leitor insaciável de literatura em geral, o que teceu junto a seus estudos o seu Um Calendário de Sabedoria (A Calendar of Wisdow), o qual passou as últimas décadas de sua vida desenvolvendo.
Mas, apesar de sua ampla e prolífica leitura, Tolstói considerava alguns livros em específico como especialmente importantes e influentes em seu desenvolvimento.
Já sob a idade de sessenta e três anos, em uma carta enviada a um amigo ele compilou uma lista dos livros que ao longo de sua vida mais tinha-o impressionado. Em 25 de outubro de 1891, então é encontrada em Cartas de Tolstoi (Tolstoi’s Letters), a máxima prefaciada sob responsabilidade do autor:
“Estou enviando a lista que comecei, mas não terminei, para sua consideração, mas não para publicação, uma vez que ela está longe de ser terminada”- (leitura, é claro, é inerentemente incompleta, haja vista que nunca se pode esperar “terminar” toda a literatura, ou sequer deve-se desejar tal coisa).
Sob o título As Obras que Deixaram uma Boa Impressão (Works Which Made an Impression), Tolstói divide sua lista de leitura em cinco estágios distintos da vida, começando com a infância e terminando em sua idade, na época – ele as classifica cada qual sob títulos variando entre sua excelência e qualidade, indo de “Grande” a “M. Grande” ou “Enorme”.
Curiosamente, Tolstói considera a literatura relativa da adolescência como um dos momentos mais formativos, prescrevendo a essa faixa etária livros maiores em qualidade e quantidade, enquanto que para a faixa dos vinte a meados dos trinta anos de idade a lista é mais escassa em ambas as qualidades, e sendo mais ocupada em parte pela poesia – talvez por poucas pessoas na época terem o luxo do lazer pela leitura durante seus mais vividos e vitais anos de desenvolvimento econômico, social e de vida em geral, ou talvez por Tolstói simplesmente acreditar que um adulto deve estar mais ocupado com outras coisas do que com a leitura nessa fase mais produtiva e ativa da vida.
Há apenas duas figuras femininas conhecidas na lista de Tolstoi, e pode-se imaginar que seja devido a preconceito, tanto particular quando em detrimento da época e de cultura – embora este último certamente molde o primeiro.
ESTÁGIO, IDADE, CLASSIFICAÇÃO, LISTA EM SI
INFÂNCIA | Até a idade dos 14 anos
GRANDE
– Tales from The Thousand and One Nights (Bibliotecas Públicas): The 40 Thieves, Prince Qam-al-Zaman
– Pushkin’s Poems (Bibliotecas Públicas): “Napoleon”
M. GRANDE
– The Little Black Hen (Bibliotecas Públicas) de Pogorelsky
ENORME
– The story of Joseph from The Bible (Bibliotecas Públicas)
– The Byliny (Bibliotecas Públicas) folk tales: Dobrynya Nikitich, Ilya Muromets, Alyosha Popovich
IDADE: dos 14 aos 20 anos
GRANDE
– The Conquest of Mexico (Bibliotecas Públicas) por William Prescott
– Tales of Good and Evil (Bibliotecas Públicas) por Nikolai Gogol: “Overcoat”, “The Two Ivans”, “Nevsky Prospect”
M. GRANDE
– A Sentimental Journey (Bibliotecas Públicas) por Laurence Sterne
– A Hero for Our Time (Bibliotecas Públicas) por Mikhail Lermontov
– The Hapless Anton por Dmitry Grigorovich
– Polinka Saks (Bibliotecas Públicas) por Aleksandr Druzhinin
– A Sportsman’s Notebook (Bibliotecas Públicas) por Ivan Turgenev
– Dead Souls (Bibliotecas Públicas) por Nikolai Gogol
– Die Räuber (Bibliotecas Públicas) por Friedrich Schiller
– Yevgeny Onegin (Bibliotecas Públicas) por Alexander Pushkin
– Julie, or the New Heloise (Bibliotecas Públicas) por Jean-Jacques Rousseau
ENORME
– The Gospel of Matthew (Bibliotecas Públicas): “Sermon on the Mount”
– The Confessions (Bibliotecas Públicas) por Jean Jacques-Rousseau
– Emile: Or on Education (Bibliotecas Públicas) por Jean Jacques-Rousseau
– “Viy” de The Collected Tales of Nikolai Gogol (Bibliotecas Públicas)
– David Copperfield (Bibliotecas Públicas) por Charles Dickens
ADULTO | IDADE: dos 20 aos 35 anos
GRANDE
– Poemas (Bibliotecas Públicas) por F.T. Tyutchev
– Poemas (Bibliotecas Públicas) por Koltsov
– The Iliad / The Odyssey (Bibliotecas Públicas) por Homer*
– Poemas (Bibliotecas Públicas) por Afanasy Fet
– The Symposium and The Phaedo (Bibliotecas Públicas) por Plato
M. GRANDE
– Hermann and Dorothea (Bibliotecas Públicas) por Johann Wolfgang von Goethe
– Notre-Dame de Paris (Bibliotecas Públicas) por Victor Hugo
IDADE: dos 35 aos 50 anos
GRANDE
– Os romances da Sra. Henry Wood
– Os romances de George Eliot
– Os romances de Anthony Trollope
M. GRANDE
– The Iliad / The Odyssey (Bibliotecas Públicas) por Homero
– The Byliny (Bibliotecas Públicas)
– Xenophon’s Anabasis (Bibliotecas Públicas)
ENORME
– Les Misérables (Bibliotecas Públicas) por Victor Hugo
IDADE: dos 50 aos 63 anos
GRANDE
– Discourse on Religious Subject (Bibliotecas Públicas) por Theodore Parker
– Robertson’s Sermons (Bibliotecas Públicas)
M. GRANDE
– The Book of Genesis (Bibliotecas Públicas)
– Progress and Poverty (Bibliotecas Públicas) por Henry George
– The Essence of Christianity (Bibliotecas Públicas) por Ludwig Feuerbach
ENORME
– The Complete Gospels* (Bibliotecas Públicas)
– Pensées (Bibliotecas Públicas) por Blaise Pascal
– Epictetus
– Confucius e Mencius
– The Lalita-Vistara: Or Memoirs Of The Early Life Of Sakya Sinha (Bibliotecas Públicas) por Rajendralala Mitra
– Lao-Tzu
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As competências e complementos aos estudos sobre Tolstói podem ser acrescidos de estudos a parte, tais como: a meditação intemporal de Tolstói sobre a arte, suas crônicas sobre o despertar espiritual, e seu compêndio sobre a maior das sabedorias da humanidade.
Quanto ao leitor que deseja apreciar na integra a carta de Tolstói, ele mesmo recomenda que seja lida durante o segundo estágio de amadurecimento literário do saber humano segundo sua lista, ou seja, entre os 20 a 35 anos. Todavia para reflexão sobre a verdadeira educação clássica que propõe, pode ser lida mais próxima aos 35 anos de idade.