Numa discussão que tive recente com uma amiga que é tão louca por livros quanto eu, chegamos à fatídica conclusão de que os nacionais contemporâneos são muito subestimados e até mesmo ignorados pelo nosso próprio publico, mas será mesmo?
É de conhecimento, e quase de senso comum que o brasileiro não é um dos maiores leitores do mundo, vide link. Os índices, apesar de apontarem um ligeiro crescimento, também revelam que quase metade da população não lê ou nunca leu um livro, o que é muito preocupante de uma maneira geral.
Voltando ao tema da discussão e também da reportagem, sempre que falamos de literatura nacional nos deparamos somente com os nomes dos autores clássicos, tais como Machado de Assis, Drummond, Cecília Meirelles, Monteiro Lobato, entre outros nomes de personalidades que compuseram nosso panorama ao longo da nossa história literária.
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Qual a relação dos clássicos com a desvalorização da literatura brasileira contemporânea?
Essa informação também me fez pensar que nenhum dos nomes mais listados e conhecidos são de autores contemporâneos, todos eles escreveram obras sólidas e transcendentais sim, só que há mais de 20 anos. Isso talvez explique um pouco o distanciamento do jovem leitor brasileiro com as nossas obras, talvez também explique a incessante valorização somente do que vem de fora do País e volte a sustentar a ideia do patinho feio que carregamos e disseminamos ao longo de nossa história.
Recentemente, houve uma polêmica com um site de assinaturas mensal de livros, onde em um de seus pacotes não há curadoria de livros nacionais e eles explicam, trocando em miúdos, que não há nacionais, pois não são livros bons para entretenimento. Isso me preocupa, já que é um site grande, com expansivo acesso e público jovem, tenho medo de que essa ideia da desvalorização do que produzimos aqui se perpetue a ponto de perdemos a nossa essência, de dificultarmos ainda mais a ascensão de novos autores e de dizimarmos a nossa literatura, que é única.
Mas como resolvemos o problema?
O Brasil não produz mais literatura contemporânea? Claro que produz, mas por que não escutamos sobre esses autores? Estamos todos nós tão marginalizados que não temos acesso a essa informação? A literatura, esse campo onde podemos imaginar, ser e viver experiências que transcendem a nossa existência é tão elitizada que esse conhecimento não é aberto a todos? Há um controle político que pretende restringir a informação? É falta de divulgação por parte das editoras?
Pra todas essas perguntas eu entendo que sim, existe sim um interesse político de que a população não tenha acesso à informação, existe falta de incentivo para que as editoras consigam alcançar um publico maior, faltam sim políticas públicas que incentivem a leitura no nosso País.
A literatura, historicamente, sempre foi um campo elitizado, os livros no Brasil custam preços altíssimos, o que dificulta o acesso a quem não tem condições de adquiri-los. Também existe um motivo e razão para que os livros sejam tão caros: falta subsídio político para arcar com todas as despesas e custas que envolvem a publicação de um livro, e infelizmente nem metade do valor que é cobrado por cada exemplar é repassado para o autor.
Por que as obras nacionais contemporâneas não têm tanto alcance?
Será que não há boa literatura brasileira contemporânea? Sim, há inclusive autores que escreveram clássicos e que ainda hoje escrevem obras extraordinárias, tal qual Rubem Fonseca, Luiz Alfredo Garcia-Roza e vários outros, mas também há bons romancistas, regionalistas, modernistas, realistas que nunca escreveram clássicos, mas que escreveram e escrevem livros incríveis com menos de 20 anos de idade e pelos quais torço honestamente para que suas obras sejam reconhecidas antes de se tornarem póstumas.
E não, não é uma crítica à literatura clássica brasileira, que é indescritível, o retrato do nosso povo e da nossa história viva, é sim um chamado para a valorização do que é nosso, de que o que está sendo produzido com muito custo é bom, e que é feito por nós, pelo nosso povo, que não somente nos entende, que não somente compartilha nossas dores e angustias, mas as vive ou viveu, que é um pedaço da nossa cultura e também é fruto da nossa terra. É um chamado para olharmos com cuidado para esses autores, para darmos incentivo e espaço para que eles cresçam e produzam muito mais.
Nosso território é imenso, nosso povo é riquíssimo, precisamos de uma valorização mais do que nunca diante dos tempos que vivemos de exaltar as coisas boas que produzimos no âmbito cultural e literário, e talvez assim sejamos capazes de mudar os índices baixos do nosso país, de tirarmos um pouco essa cara elitista que a literatura possui, de trazer acesso de outras pessoas para nossa cultura sobre nossos olhares.
Deixo aqui algumas recomendações de autores nacionais contemporâneos, que produziram e produzem um material riquíssimo para nossa história e estantes, tais quais: Marçal de Aquino, Nelson Motta, Daniel Galera, Luisa Geisler, entre outros.