“Por enquanto me sinto como uma formiga que anda pelo mundo com o filho e os livros debaixo do braço”, afirma Andrea del Fuego na entrevista.
Andrea del Fuego é uma das mais consagradas escritoras da literatura brasileira da nova geração. Natural de São Paulo, tem 39 anos de idade e é formada em Filosofia. Já trabalhou com publicidade e foi colunista do programa literário Entrelinhas, exibido na TV Cultura. Ela é mãe de algumas seletas de contos, do premiado romance Os Malaquias (Língua Geral), traduzido em vários idiomas, e de As Miniaturas (Companhia das Letras); como também do menino Francisco, uma belíssima obra, diga-se de passagem, feita em parceria com o marido, e que chegou na vida da escritora justamente num momento de verdadeira transição de sua carreira literária.
Direto de Buenos Aires, Andrea del Fuego contou, em entrevista exclusiva ao Homo Literatus, um pouco sobre a sua experiência relacionada à escrita e maternidade. Confira:
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Pode nos falar sobre a relação família x literatura que acompanha o seu primeiro e consagrado romance Os Malaquias?
Andrea del Fuego: Foi quando minha avó materna morreu que senti urgência em escrever Os Malaquias. Levei sete anos para organizar o que era literatura e o que era tributo familiar, um conflito interior com o qual aprendi a dar tempo ao texto. Perdi a pressa.
Você ganhou o Prêmio José Saramago quando ainda estava grávida de seu primeiro filho. Pode nos contar essa experiência da premiação angariada a sua gravidez?
Andrea del Fuego: Recebi o prêmio com tanta emoção que fiquei com medo da intensidade perturbar o Francisco dentro de mim. Enquanto gerava meu filho, o livro que foi escrito em homenagem aos meus avós já mortos ganhava luz. Inclusive o prêmio em dinheiro me permitiu parir com mais segurança, eu nunca tive plano de saúde, por exemplo, e pude pagar uma boa maternidade na ocasião. Corpo e alma foram agraciados juntos.
O que mudou da Andrea del Fuego antes e depois da maternidade?
Andrea del Fuego: O guardado mais profundo veio para a pele.
Você acha que a sua literatura, de certa forma, recebeu algum tipo de influência em decorrência de ser mãe?
Andrea del Fuego: Ainda não escrevi de verdade depois da maternidade, comecei um romance e estou há meses na primeira página. Programei um retorno ao cotidiano de escrita quando meu filho for para a escolinha. Por enquanto, ainda amamento (ele tem 2 anos e 2 meses) e o carrego debaixo da minha asa para onde a literatura está me levando. Agora estou na Argentina, há um mês eu estava na China. Consigo honrar quase todos os convites, meu filho vai crescendo sabendo que a mãe é um processo sem fim. O próximo livro já está imenso dentro da minha cabeça, vou explodir se não avançar. Gosto desse desafio que me deixou menos tempo para ser um átomo flutuante (só viver para a minha perspectiva) para ser o chão estável de uma criança, esse chão fica para além do filho, é um presente. Um exemplo prático disso é perder muitos medos por conta do desejo de ser um porto seguro.
Conte-nos a experiência da escritora como mãe.
Andrea del Fuego: Por enquanto me sinto como uma formiga que anda pelo mundo com o filho e os livros debaixo do braço. Essa andança é só uma fase e por isso aproveito muito, tanto esses primeiros anos do Francisco quanto o bom eflúvio de Os Malaquias. O tempo de parar e escrever o próximo livro já se aproxima.
Uma lembrança do passado referente ao seu vinculo maternal.
Andrea del Fuego: Minha mãe contando os sonhos dela, sonho fisiológico mesmo, vivido durante o sono.
Ser mãe é?
Andrea del Fuego: Ser mãe é parar de rodopiar e ver tudo mais devagar, cuidar da vida com atenção e calma.