Literatura infantil e preconceito

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Embora muitos escritores sejam da opinião de que o livro infantil não deva ser utilizado em sala de aula para o trabalho didático, trago aqui um exemplo de que o livro infantil ou até mesmo o juvenil pode, e por que não, agregar valor à prática pedagógica em sala de aula.

Há uns dias trabalhei na sala de aula com os meus alunos dos quintos anos (duas turmas) com duas datas “comemorativas”: 20/03, Dia Do Contador de Histórias e 21/03, Dia Internacional Contra o Preconceito Racial. Pois bem, deixei de lado ‘as regras’ definidas por aqueles escritores que pensam que livro deve  apenas entreter e coloquei a mão na massa e utilizei duas obras literárias: A ovelha branca da família, de Luciana Garcia, e Pretinha de Neve e os sete gigantes, de Rubem Filho.

Recorri a essas duas obras não apenas falar sobre preconceito racial ou sobre o dia do contador de histórias, mas fui além, tracei um paralelo entre os contos de fadas, as crendices e os livros atuais.

Após a minha leitura dramática das duas obras, iniciei a conversa com os alunos, levei-os a pensar sobre a diferença entre essas duas histórias que trazem a oposição ao conto de fadas Branca de neve e os sete anões e ao dito/expressão popular “Ovelha negra da família”.

Por que as pessoas ruins, ou fora dos padrões considerados normais são representados por ovelhas negras? Vejam que essa expressão traz uma conotação negativa, enfatiza o lado ruim do indivíduo. Geralmente é utilizado quando um membro da família não é muito bem-quisto. Mas por que negra? Não poderia ser branca? Eis que temos então uma expressão ditando valor negativo para algumas pessoas. E foi nesse momento que trouxe para os meus alunos o livro que aborda o oposto, a ovelha diferente também pode ser a ovelha branca. Esse livro trata de forma alegre e com um vocabulário de acordo com os alunos (e por que não com os jovens e adultos também?) esse tema bem atual.

Em outra ponta está o conto de fadas que traz a princesa caracterizada por uma jovem de pele branca e os sete anões. Mas será que apenas as jovens brancas podem ser princesas? Eis que nesse momento entra o outro livro, desmitificando o conto de fadas e dizendo que não! As princesas também podem ser jovens de pele negra, ou vermelha, ou de qualquer outra cor. Os anões, caracterizados como seres engraçados que não devemos levar a sério, por serem infantilizados por seu tamanho, aparecem na segunda história como gigantes e espertos (sobre os anões e gigantes eu ainda tenho as minhas dúvidas, creio que poderia ainda ser abordado de outra forma).

Sim, o livro é para divertir, mas por que ele também não poderá ser utilizado como um parceiro na sala de aula? Pois a sua linguagem vai ao encontro com o imaginário do leitor, seja ele criança ou não, traz ou reforça conceitos e novidades que nunca havia sido dita anteriormente. A magia da palavra literária acrescenta sempre!

Os alunos, após a conversa com colegas, conseguiram refletir e pensar sobre esses dois temas, além de chegarem a excelentes conclusões. Eis que mais uma vez a Literatura vem para abrilhantar a prática pedagógica e dar um ar poético num tema tão pesado.

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Cláudia de Villar é professora, escritora e oficineira. Formada em Letras pela FAPA/RS, especialista em Pedagogia Gestora e em Supervisão Escolar. A escritora tem alguns livros já publicados para o público infantojuvenil e adulto. Atua também como colunista de alguns jornais do RS (Jornal de Viamão e Jornal Floresta) e colabora com um texto mensal para o site Artistas Gaúchos. Desde agosto de 2013 é uma das associadas da AGES (Associação Gaúcha de Escritores). Cláudia afirma que é professora por opção profissional e escritora por vocação. Ler, escrever, criar e sonhar faz parte da composição de seu SER.

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