O adolescente do século XXI é preguiçoso, viciado em smartphones, redes sociais, aplicativos e sem grandes ambições. Será? Novas observações sobre o mercado literário direcionado a tal público mostram uma alta gritante nos números de venda de livros infantojuvenis, desconstruindo a dissociação entre a literatura e os jovens.
A maioria dos livros que fazem parte de listas que selecionam os livros mais vendidos da semana ou do mês são de autores infantojuvenis. John Green e Cassandra Clare são dois nomes muito poderosos entre a garotada, arrastando legiões de fãs pelo mundo que se identificam e criam vínculos afetivos com seus personagens.
Os livros têm se difundido entre essa faixa de idade com tal força graças a um conjunto de fatores interessantes e observáveis no cotidiano. A internet torna-se meio de conhecimento e troca de informações sobre os exemplares por abranger uma grande quantidade de pessoas interessadas em determinados assuntos, o que agiliza a busca por novos títulos e apimenta a discussão sobre os enredos, etc. Com isso, o número de blogs que postam resenhas dos últimos lançamentos literários para o público jovem tem crescido exponencialmente e se difundido com uma velocidade impressionante, caracterizando assim uma geração de leitores extremamente ativos e informados sobre seus livros favoritos.
A grande pergunta é: se essa geração utiliza tanto da tecnologia para se informar sobre novos títulos e buscar mais informações sobre aqueles que já tem simpatia, por que o consumo de e-books ainda não é tão alto quanto se estima? Simples: porque nessa faixa de idade há a necessidade da autopromoção. O processo de leitura vai para além da assimilação das palavras. O leitor infantojuvenil precisa mostrar aos seus colegas o que está lendo e o progresso que está tendo, preferindo então a compra de livros físicos. Essa exibição gera uma identificação e, consequentemente, uma aproximação entre pessoas com gostos afins, formando-se então as famosas “tribos”.
Cada um desses grandes escritores queridos pelos adolescentes assume um papel social de grande importância e que acaba por aproximar sua imagem da personalidade dos fãs. O norte-americano John Green, por exemplo, é uma das personalidades mais influentes nas redes sociais da atualidade. Dono de vlogs no Youtube, contas no Twitter e de grandes doações, o autor ganhou o carinho da molecada por seu perfil simples e deslocado, típico dos adolescentes que leem suas obras.
Alguns estudiosos no ramo gostam de atribuir o começo dessa era de fanatismo literário com a explosão do fenômeno Harry Potter, onde milhões de crianças e adolescentes ao redor do mundo devoravam exemplares de 300 a 500 páginas em dias.
O grande questionamento que fica é sobre a qualidade dos livros. Há alguns anos atrás essa mesma faixa de idade lia títulos recomendados por professores e pais, o que trazia às histórias uma moral educacional. No século XXI a leitura está mais associada à diversão, com personagens leves e histórias com uma proximidade emocional de seu público.
A leitura deve ser um processo de crescimento tal como o desenvolvimento biológico de um ser humano. Primeiro deve-se deleitar de histórias mais simples para depois então partir para enredos mais densos e complexos. A fixação nos dois extremos é prejudicial visto que limita as possibilidades de leitura da vida, um dos grandes objetivos da leitura. O ser humano (quase) perfeito é aquele que encontra equilibro entre o que ama e o que detesta.