Mas afinal de contas, a literatura serve para quê? Na maioria das vezes, lemos uma obra literária e não nos perguntamos qual é a função que ela desempenha em nossas vidas
No artigo A literatura e a formação do homem (1972), o crítico literário e sociólogo brasileiro Antonio Candido declara que a literatura tem força humanizadora; ela é capaz de exprimir o homem, sem deixar de atuar, ao mesmo tempo, em sua formação.
E como se dá esse tal processo humanizador? Candido destaca que esse processo de humanização se realiza a partir de três funções:
1 – psicológica, pois todo homem, seja criança, adolescente ou adulto, precisa consumir fantasia porque ninguém pode passar um dia sem criar, imaginar, contar piadas ou histórias mais elaboradas;
2 – formadora, que não se deve ser confundida com pedagógica ou moralizadora, pois a arte literária não é inofensiva, ao transfigurar o real ela carrega tanto o bem como o mal;
3 – reconhecimento do mundo e do ser, pois ao sintetizar o real, o texto de uma obra oferece aos leitores uma visão de mundo em que vivem de modo que possam compreender os papeis que desempenham nele.
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Ao contrário do que se pensava antigamente sobre a literatura – sobretudo a destinada para os jovens –, que tinha um papel formativo tradicional, pedagógico e moralizador, Candido considera que esta nobre arte possui papel formador, sim, todavia de personalidade do homem, e não de convenções sociais, saberes didáticos, direitos e deveres. A literatura permite ao homem conhecer a si mesmo e a própria realidade, o que, consequentemente, direciona um poderoso despertar de senso crítico.
O texto literário sintetiza o real e, ao fazer isso, “oferece aos leitores uma visão do mundo em que vivem de modo que possam compreender os papéis que nele desempenham. Embora a obra literária constitua um mundo autônomo, ou seja, não é o mundo real, essa autonomia não a desliga de suas fontes da realidade e não inviabiliza a capacidade que a obra tem de atuar sobre o real que a motiva.” (MARTHA, 2011, p. 16)
A literatura, portanto, serve para o conhecimento do mundo e do ser. Sua função formadora não deve ser confundida com uma missão pedagógica.
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Referências:
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Ciência e Ciência. São Paulo, setembro de 1972, vol. 24 (9).
MARTHA, Alice Áurea Penteado; org. Tópicos de Literatura Infantil e Juvenil. Formação de professores em Letras – EAD. In: MARTHA, Alice Áurea Penteado; Literatura Infantil e juvenil: concepções introdutórias. Maringá, 2011.