Loucura coletiva

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Um coletivo que nos atira de um lado para o outro, acaba, uma hora ou outra, mexendo com nossos cérebros. Somos atirados para cima e para baixo uns dos outros. Uns falam alto outros escutam alto – o som. Uns de fones, em outro mundo, balançam a cabeça. Batem-se pernas, encostam-se braços e roubam-se telefones. A luz comprida dos faróis dos carros bate no motorista, mas não chega muito longe. Há uma barreira de homens, mulheres e crianças em pé. A idade não importa; tampouco a condição física.

É difícil, é difícil. Mexeram no meu bolso, mas não levaram nada. Tem um lá na frente que grita, tiro o fone do ouvido esquerdo – que escuta melhor – para tentar discernir o assunto da vez. Alguns falam de Jesus e drogas. Uns prometem mandolates gigantes: “Dois por cinco, dois por cinco!”. Outros se atêm às rapaduras. Dia desses um me deu um santinho. Cobrou um real pelo papel. Não quis, devolvi. Fui pego de surpresa, afinal, não ouvi o que o homem dizia. Nem vi, também, que do outro lado do papel estava escrito “sou surdo/mudo”. Devo ser cego, entre sovacos e barras de metal amarelas.

Olha… tem uma poesia ali no vidro. Mas não consigo ver, tem um cara parado na frente. Cada vez que ele se mexe, leio um pouco mais. Perco a parada, mas não perco o poema. Aliás, tá complicado aqui, estamos na segunda parada de ônibus e não para de subir gente. Para. Para! Não chega minha parada nunca. Tem um lá na frente, aos berros, perguntando o plural de “Jesus”. Que ele quer vender dois por cinco. Dois Jesuses  por cinco reais, só comigo!

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